Título: Cidade cria ciclo para conter repetência
Autor: Mandelli, Mariana
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/12/2011, Vida, p. A11

Saída de Itaboraí, na Grande Rio, foi ampliar prazo de alfabetização

O petroleiro Marcelo Neves, de 42 anos, já havia sido avisado pela professora do filho, Caio Felipe, de 6 anos: o menino seria reprovado. Não estava pronto para passar para o 2.º ano do ensino fundamental porque precisava aprimorar a leitura e a escrita. Na última semana de aula, Neves foi surpreendido: "O senhor ganhou um presente de Natal. Seu filho passou de ano", ouviu da professora.

Resolução da Secretaria Municipal de Educação de Itaboraí, a 45 km da capital, criou o ciclo de alfabetização - crianças têm de estar aptas a ler e escrever até os 8 anos, não mais em um ano. Por tabela, todas aquelas que repetiriam foram aprovadas. A resolução também ajudou a driblar um índice negativo: 30,9% dos estudantes dessa série foram reprovados na cidade, em 2010.

O problema não está em Caio, que aproveita as férias para andar de bicicleta. Em um ano, teve duas professoras na Escola Municipal Cecília Augusto dos Santos. Seu colega Moisés Henrique da Silva, de 7, passou por três profissionais. "Quando estava acostumando, vinha outra."

"Essa foi a solução fácil para resolver um problema estrutural", afirma Dermeval Marins de Freitas, professor da Escola José Ferreira. Só ali, ele viu quatro professoras se revezarem numa turma de 1.º ano. "Não eram concursadas, mas contratadas. E pegaram turmas muito cheias, com 25, 30 alunos."

Roney de Aguiar Carvalho, diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, em Itaboraí, critica ainda a falta de um plano de cargos e salários. "Os profissionais enfrentam a falta de estímulo."

Alheio à polêmica, Neves só quer que o filho aprenda a ler. "Vim de um município onde as crianças eram aprovadas sem saber. A mais velha está no 5.º ano e não lê direito."

A diretora da Divisão do Primeiro Seguimento do Ensino Fundamental, Dilcilene Quintanilha, diz que a secretaria fez um concurso e a falta de professor estará contornada em 2012. Ela diz que as crianças que seriam reprovadas receberão aulas de reforço.

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