Título: Chuvas prejudicam a produção de minério de ferro em Minas Gerais
Autor: Guimarães, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2012, Economia, p. B1

Vale prevê queda de 20% na produção na região e decreta estado de força-maior para negociar com clientes; CSN pode adotar a medida

As chuvas que castigam Minas Gerais, principal produtora de minério de ferro do País, já ameaçam o fornecimento do produto em 2012. Com problemas para operar minas e ferrovias alagadas, a Vale decretou situação de força maior e prevê queda de 20% na produção de minério de ferro na região. "Estamos na Arca de Noé, dependentes das águas. Tem que parar de chover", afirmou, ontem, o diretor executivo de Ferrosos e Estratégia da Vale, José Carlos Martins.

Também afetada pelas chuvas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) estuda adotar a mesma medida. No início da semana, a MMX, do empresário Eike Batista, comunicou que as operações em Serra Azul foram prejudicadas. A Vale calcula em dois milhões de toneladas as perdas desde o início das chuvas, no fim de dezembro. Mas informa que esses prejuízos devem ser compensados ao longo do ano.

Perdas. Essa visão não é compartilhada por Luciano Borges, consultor do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e ex-secretário nacional de Minas e Metalurgia. Segundo ele, a redução nas exportações de minério em janeiro "dificilmente" será compensada e pode significar perdas irreparáveis de receita em 2012. O minério que deixar de ser transportado, afirmou, não poderá ser acrescentado às ferrovias nos meses subsequentes por falta de capacidade ociosa.

A produção mineira representa de 30% a 40% da exportação nacional. Para Borges, o problema no Brasil favorece as concorrentes BHP Billiton e Anglo American, além de pequenos fornecedores globais que podem vender no spot (mercado à vista) para compensar o desabastecimento por parte das mineradoras brasileiras. "Quando o principal player do mercado transoceânico (a Vale) declara força maior, a tendência é o preço subir", diz.

Com uma produção menor, as filas de navios crescem nos portos brasileiros, à espera de minério para ser embarcado. "Pelo menos 10 navios a mais estão aguardando nos portos da Vale", diz Martins. A maior preocupação da Vale é garantir o fornecimento aos clientes. "A questão mais urgente agora é administrar clientes europeus", disse.

Ele diz que as siderúrgicas europeias são mais dependentes do minério da Vale, que abastece 50% do mercado local. Já a China, pela distância do Brasil e por ter um leque pulverizado de fornecedores, está mais blindada. Hoje, a companhia fornece cerca de 15% do consumo de um bilhão de toneladas da China. Além disso, a produção que está chegando hoje àquele país foi embarcada no último trimestre.

Chuva recorde. Anualmente, diz Martins, a companhia se prepara para o período de chuvas. O problema foi o volume recorde desta vez, o maior desde 1910. Segundo ele, a Vale resistiu ao máximo antes de decretar estado de força-maior. Com a medida, a Vale pode se beneficiar de uma cláusula nos contratos de fornecimento de longo prazo e ter mais flexibilidade para gerenciar sua produção. A última vez que a Vale anunciou força-maior foi em 2009, quando a estrada de Carajás ficou alagada.

As chuvas afetaram dois sistema de produção da mineradora: o sul e sudeste. Juntos, responderam por pouco mais de 60% da produção total de minério de ferro no ano passado. A empresa já calcula em dois milhões de toneladas a perda desde o fim de dezembro, quando os problemas climáticos começaram.

Martins diz que, como a Vale opera no limite de sua capacidade, não tem flexibilidade para direcionar parte da produção mineira prejudicada para Carajás. "Se fosse possível a substituição não precisaríamos declarar força-maior. Só declaramos porque o impacto foi expressivo."

A produção de minério de ferro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que abastece a própria siderúrgica, também foi afetada pela incessante chuva que castiga o quadrilátero mineiro. Mas, a empresa prefere não informar o tamanho das perdas. Mesmo sem ainda ter recorrido ao estado de força-maior, a empresa tem aproveitado para conversar com os clientes sobre os problemas climáticos. Toda a produção de minério de ferro da companhia está localizada em Minas: a mina Casa de Pedra, em Congonhas, e a Namisa, no Quadrilátero Ferrífero./FERNANDA GUIMARÃES, MARIANA DURÃO E MÔNICA CIARELLI