Título: Corte da dívida dificulta acordo para resgate
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2012, Economia, p. B3

UE e FMI teriam solicitado a investidores que aceitem desconto de 53% e não 50%

As negociações entre os ministros de Finanças da União Europeia invadiram a noite de ontem porque um tema ainda causava preocupação: o corte das dívidas da Grécia por credores privados.

O objetivo dos executivos era convencer os investidores a aceitarem um haircut (desconto) de 53% do valor nominal dos títulos da dívida soberana - contra 50% acordados até aqui -, de forma a garantir o recuo da relação dívida-PIB a 120% em 2020.

O tema retardava as negociações na madrugada de hoje porque o acerto sobre o porcentual do corte já havia sido feito em outubro, durante reunião de cúpula dos chefes de Estado e de governo da União Europeia, e teria de ser modificado. O problema teria sido provocado pela depressão econômica na Grécia, mais profunda do que o imaginado - 6,8%, contra cerca de 5% estimados em 2011.

O buraco maior do que o previsto levou ao recálculo do valor da dívida em 2020, e a conclusão não foi boa: se o haircut de 50% fosse mantido, a relação dívida-PIB em oito anos recuaria a 129%, acima do considerado sustentável por Bruxelas e o FMI.

A única saída foi chamar o Instituto Internacional de Finanças, representante dos credores privados, à mesa de negociações. O objetivo foi redefinir o tamanho do corte, o reescalonamento dos pagamentos e os juros cobrados pelos novos bônus a serem emitidos pelo Tesouro de Atenas, em substituição aos que perderão valor com a reestruturação "voluntária".

O problema é que as contas não fechavam. Segundo relatos de negociadores, colhidos em Bruxelas, ainda faltariam entre € 3 bilhões e € 6 bilhões à Grécia.

Em Atenas, esse rombo já era conhecido na última semana. E, por isso, já se comentava nos bastidores do Parlamento que um novo pacote de austeridade - que seria o sexto em dois anos e meio - teria de ser elaborado e aprovado até junho.

Deputados ouvidos pelo Estado, como Rigas Takis e Ioannis Amoirides, ambos membros do Partido Socialista, atualmente no poder, confirmaram que os estudos nesse sentido já existem.

De acordo com o jornal Financial Times, a economia grega poderá até mesmo precisar de um terceiro pacote de socorro ao longo da década. Isso porque, segundo um relatório confidencial da UE, os planos de austeridade podem mergulhar a Grécia em um cenário de depressão econômica mais forte do que o esperado, o que atrasaria a retomada do crescimento e, com isso, do ritmo de pagamento das dívidas. / A.N. COM AGÊNCIAS