Título: BB e Caixa vão financiar população de baixa renda
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/02/2012, Economia, p. B3

Ideia é transformar lotéricas e agências dos Correios em canais para pessoas que não têm comprovação de renda

A estratégia do governo para incentivar financiamentos nos bancos públicos vai além da redução dos juros. Está em estudo um plano para incluir no mercado de crédito uma faixa da população que tem dificuldade ou mesmo não tem acesso aos empréstimos: trabalhadores informais, autônomos e até beneficiários do Bolsa Família.

Para isso, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil querem transformar as lotéricas e agências dos Correios em canais de oferta de crédito com produtos para a baixa renda.

Fontes nos dois principais bancos públicos de varejo - Caixa e BB - afirmaram ao Estado que as duas casas estudam há vários meses novos produtos de crédito para serem oferecidos nesses 15 mil pontos de atendimento.

São 9 mil lotéricas e mais 6 mil agências dos Correios no País. O plano é usar essa rede para aumentar o volume de empréstimos às famílias com menor renda e, assim, ajudar a manter a economia aquecida, exatamente como quer o governo.

Para efeito de comparação do alcance dessa rede de atendimento, o Banco do Brasil - que tem a maior abrangência nacional - soma pouco mais de 5.200 agências.

Nos dois bancos públicos, há o entendimento de que o "crédito de lotérica" pode agregar ao mercado de consumo alguns milhões de pessoas que - por não terem rendimento formal ou renda muito baixa - não tiveram acesso às benesses do recente "boom" do crédito vivido pelo Brasil desde 2008.

"Poderia até ser como uma segunda fase do boom de crédito", diz uma fonte de um dos bancos públicos, que pede para não ser identificada.

Porta de entrada. Entre os alvos do crédito de lotérica e dos Correios, estão clientes que estrearam há pouco nas contas correntes simplificadas ou mesmo quem ainda não tem nenhum relacionamento com bancos.

São brasileiros que vivem de bicos como os que fazem doces e salgados para vender, costuram, são camelôs, vendedores autônomos ou beneficiários de programas sociais. A intenção é criar produtos distintos que possam oferecer uma "porta de entrada" aos serviços bancários e, especialmente, ao crédito.

Entre os defensores do crédito de lotérica, há o entendimento de que, apesar da baixa renda desses clientes, a inclusão desse universo de brasileiros ao mercado tem potencial de provocar efeito relevante na demanda, já que muitos nunca tiveram acesso a uma linha de crédito em instituição financeira.

A concessão de empréstimo a esses clientes poderia incentivar a demanda no varejo e ainda reforçar pequenos negócios. Atualmente, a Caixa não opera empréstimos nas lotéricas. No Banco Postal, o Banco do Brasil oferece linhas de crédito aos clientes com conta simplificada.

A operação, porém, é muito semelhante à feita pelos clientes tradicionais e que possuem conta nas agências. Procurados, Caixa e Banco do Brasil não comentaram o assunto.

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