Título: Banco estrangeiro lidera alta da inadimplência
Autor: Cucolo, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2012, Economia, p. B3

Dívidas em atraso cresceram 45% em 2011, o dobro da média dos bancos públicos

Os bancos estrangeiros que atuam no País puxaram a alta da inadimplência no ano passado. O valor das dívidas atrasadas nestas instituições cresceu 45%, mais que o dobro do registrado pelo setor financeiro público no mesmo período.

Segundo dados do Banco Central, os estrangeiros amargam calote de R$ 17,7 bilhões, praticamente o mesmo valor das prestações em atraso nos bancos estatais (R$ 17,8 bilhões).

A diferença é que os públicos têm uma carteira de empréstimos que corresponde a duas vezes e meia o valor emprestado pelas filiais brasileiras de bancos com sede no exterior.

O índice de inadimplência, que corresponde às dívidas com atraso superior a 90 dias, passou de 4,1% dos empréstimos, no final de 2010, para 5% das dívidas dos clientes de bancos estrangeiros. O Santander, a maior dessas instituições no Brasil, registrou aumento de 3,9% para 4,5% na inadimplência em 2011.

Nos públicos, a taxa se manteve em 2% no ano passado. O Banco do Brasil, por exemplo, registrou queda no indicador (para 2,1%), enquanto a Caixa Econômica Federal manteve praticamente o mesmo nível de atrasos do final de 2010 (2%).

Os bancos privados nacionais registraram aumento de 4% para 4,6% no indicador. Em valores absolutos, os atrasos cresceram 34%, abaixo do registrado nos estrangeiros e acima dos públicos.

Pé no freio. O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, diz que os bancos com sede fora do País reduziram pelo segundo ano sua participação no mercado de crédito.

Segundo o economista, na medida em que a carteira de crédito cresce mais lentamente, ganham peso operações mais antigas, com maior risco de inadimplência.

"Os bancos estrangeiros estão mais retraídos por conta da crise, mas se eles tiverem autonomia para crescer no Brasil, principalmente em linhas como consignado e carros novos, esses índices podem melhorar neste ano", afirma.

Santacreu diz ainda que a decisão do Banco Central de incentivar os bancos a retomarem as operações de compra e venda de carteiras de crédito deve contribuir para uma melhora nesses indicadores. "Isso pode melhorar o perfil da carteira dos estrangeiros, que são tradicionalmente compradores e vendedores de crédito."

Gustavo Schroden, analista do BES Securities, diz que 2011 foi um ano ruim em termos de inadimplência para todas as instituições e que os bancos públicos tiveram indicadores melhores por conta do peso de empréstimos imobiliários e do consignado, linhas com menor nível de atrasos, em suas carteiras.

Para ele, em 2012, os bancos devem privilegiar essas linhas que são menos rentáveis, porém menos arriscadas. "Depois do que aconteceu em 2011, essa política mais conservadora dos bancos públicos vai ser uma tendência para todas as instituições".

Para o economista, isso deve significar também redução no crescimento do crédito para empresas de menor porte e nos financiamentos de veículos. Essa última modalidade, por exemplo, registrou no ano passado o dobro da inadimplência do final de 2011. Isso explica o aumento dos atrasos nos bancos de montadoras, que também respondem por parcela significativa do crédito de instituições estrangeiras no Brasil.

"Veículos é um segmento mais arriscado, porque é a primeira prestação que o cidadão deixa de pagar quando tem um problema financeiro", diz o economista.