Título: Vai dar tudo certo (se der tudo certo)
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2012, Economia, p. B3

Nada é mais incerto do que o destino da dívida da Grécia, mesmo após os € 240 bilhões em empréstimos e os € 107 bilhões em corte das dívidas dos credores privados anunciados ontem, em Bruxelas. Duas variáveis causam maior insegurança: a primeira é a instabilidade política em Atenas; a segunda são os cenários de crescimento traçados pela União Europeia e pelo FMI.

Em abril, eleições legislativas deverão definir um substituto para o atual primeiro-ministro Lucas Papademos. Mesmo que o favorito, o conservador Antonis Samaras, consiga reprisar o governo de união hoje no poder, os dois maiores partidos do país, o Nova Democracia (ND) e o Partido Socialista (Pasok), somam cerca de 34% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. Ou seja: será necessário constituir uma coalizão maior.

O problema é que as demais forças políticas, como o partido Esquerda Democrática e o Partido Comunista, não se comprometeram a respeitar as medidas de austeridade exigidas pela UE, pelo BCE e pelo FMI. Daí a pressão da Alemanha para que a Grécia não realize eleições.

Não bastasse a instabilidade política, a falta de crescimento não ajuda as previsões econômicas. Mesmo sabendo que a Grécia enfrenta uma depressão aguda, que deve chegar a 20% no fim de 2012, a União Europeia segue projetando para breve o retorno do crescimento. Segundo os cenários que constam no programa de socorro, a Grécia crescerá quase 3% ao ano entre 2015 e 2020. Ora, muitos economistas dentro e fora do país duvidam que Atenas, mergulhada em planos de austeridade e em corte de salários, possa voltar a crescer ainda nesta década.

Se o crescimento não for retomado no ritmo previsto pela UE, entendem esses experts, todos os cálculos de redução do déficit e da dívida serão comprometidos. Para a economista grega Miranda Xafa, diretora executiva do FMI, não há margem para erros na Grécia. Tudo ainda pode dar certo, desde que tudo dê certo.