Título: Contas externas atípicas em janeiro exigem atenção
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/02/2012, Economia, p. B2

O déficit das transações correntes de janeiro, de US$ 7,086 bilhões, foi o maior desde o começo das estatísticas, em 1947. Era um resultado esperado em razão da evolução da balança comercial que, com a queda das exportações de minério de ferro, teve déficit de US$ 1,292 bilhão.

Para um exame da tendência, cabe levar em conta os resultados parciais (até 23 de fevereiro) mostrando que os dados de janeiro foram atípicos. Olhando para o resultado da balança comercial nas três primeiras semanas de fevereiro, vê-se um superávit de US$ 1,721 bilhão que deve conduzir a um ajuste das transações correntes, cujo déficit poderá ficar limitado em cerca de US$ 2-3 bilhões.

Não apenas a balança comercial deverá acusar uma melhoria, mas também parte dos serviços e desembolsos para as rendas. No caso dos serviços, pode-se prever, em fevereiro, levando em conta o caráter sazonal destes gastos, uma redução do déficit que chegou a um recorde de US$ 1,335 bilhão, pois até o dia 23 de fevereiro ele caiu para US$ 733 milhões. No mês de janeiro, costuma-se registrar forte aumento das remessas de lucros e dividendos. As remessas caíram muito, em razão do recuo da atividade econômica e também da antecipação para atender a necessidades das matrizes nos países ricos: o saldo negativo das remessas ficou em US$ 987 milhões em janeiro, a metade do ano anterior, em que os resultados econômicos eram muito melhores. Até o dia 23 deste mês, o saldo negativo caiu para US$ 120 milhões. Os juros sobre as dívidas costumam ser maiores no mês de janeiro: tiveram um saldo negativo de US$ 1,627 bilhão, valor sensivelmente igual ao de janeiro de 2011. Todavia, esse saldo negativo caiu para US$ 853 milhões nos 23 primeiros dias do mês atual.

O déficit das transações correntes foi coberto em janeiro pela conta financeira, que alcançou US$ 7,214 bilhões, valor nitidamente inferior a janeiro de 2011 (US$ 14,5 bilhões), porém com forte aumento dos investimentos diretos estrangeiros, que atingiram em janeiro US$ 5 bilhões, ante US$ 2,9 bilhões em janeiro de 2011. Podemos acrescentar que a rolagem dos empréstimos atingiu 128% no primeiro mês do ano, o que, numa economia mundial perturbada, representa um grande sucesso e mostra que o Brasil continua em maré de confiança.

Esses resultados são bons, mas não nos é dado relaxar. O Banco Central está prevendo um déficit das transações correntes para o ano de US$ 65 bilhões, e nada assegura que a conta financeira cubra esse déficit, que depende de investimento estrangeiro de cerca de US$ 70 bilhões.

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