Título: Assentos se dobravam como se fossem de papel
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2012, Internacional, p. A10

Sobreviventes que estavam no trem e na plataforma relatam momentos de desespero após colisão na estação

Sentado em uma cadeira de rodas na porta do Hospital Ramos Mejía, onde estavam sendo atendidos a maioria dos passageiros feridos no acidente da estação Once, Juan, um jovem estudante portenho, relatava a tragédia: "Eu e vários outros passageiros percebemos que havia um problema no funcionamento do trem. Quando tinha de começar a brecar, não brecava. E não brecava e não brecava! Estava começando a ficar preocupado. Na estação de trens do bairro de Floresta o trem não parou quando deveria parar."

Quando o trem descarrilou na estação de Once, Juan - que estava no segundo vagão - sentiu o impacto. "Uma das janelas do vagão caiu em cima de mim e fraturei o tornozelo", contou. "Apesar da dor ajudei um amigo a sair do vagão. Depois entrei em estado de choque." No Hospital Durand, a angústia dilacerava Diego Valdéz. Ele buscava sua amiga Graciela Díaz, de 49 anos, que não atendia o celular. Valdéz, preocupado, recorria às redes sociais e aos canais de TV para localizar sua amiga.

José Pontirolli, na frente do Instituto Médico Legal, buscava sua filha Helena, de 23 anos, exibindo uma foto aos jornalistas. "Ela devia estar no trem, pois a deixei de manhã cedo na estação. Seu celular não atende. Os legistas dizem que seu corpo não está aqui. Por favor, me ajudem", implorava.

Dolores Angeles, dona de casa e artista plástica, usuária da linha Sarmiento, acusou o governo de "total descaso". "O pessoal a queria ir à Praça de Maio protestar na frente do palácio presidencial", disse ao Estado. "Eu não irei. Não adianta de nada. O governo ri da cara da gente. Esse acidente é uma prova disso."

Luis Chei, dono de uma banca de jornais na estação de Once há 25 anos, testemunhou o acidente. "A plataforma era um amontoado de ferros, sangue e pessoas desesperadas. Nunca vi um acidente assim em Buenos Aires. Era uma paisagem de horror."

"Os assentos desapareceram. Dobraram-se como se fossem de papel", disse ao jornal Clarín Fabio Cordone, de 37 anos. "Voei de um vagão para o outro."

A maior parte dos mortos e feridos estava nos vagões dianteiros do trem. Segundo testemunhas do acidente, a composição já apresentava um comportamento estranho desde Caballito, a estação anterior. "Os vidros voaram. Vi que um rapaz que estava perto da janela voou para longe do trem", acrescentou Cordone. De acordo com Concepción Ortiz, de 60 anos, havia muita gente sangrando e presa no vagão dianteiro. "O trem bateu com força e os passageiros caíram uns sobre os outros", afirmou. / A.P.