Título: Pior desastre ferroviário de Buenos Aires em 60 anos mata 49 e fere 600
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2012, Internacional, p. A10

No maior acidente ferroviário de Buenos Aires em 60 anos, um trem da linha Sarmiento colidiu contra a barreira do fim dos trilhos da estação de Once e descarrilou, causando 49 mortes e deixando 600 feridos.

A velha locomotiva que puxava uma dezena de vagões Toshiba dos anos 60 transformou-se numa massa amorfa de metal. Voluntários, bombeiros e policiais tentavam, horas depois do acidente, remover passageiros do meio das ferragens. Dramáticos pedidos de socorro podiam ser ouvidos em toda a estação.

A maior parte das mortes ocorreu no primeiro e no segundo vagão - que, segundo depoimentos, "entrou" seis metros no primeiro vagão. Um dos mortos era uma criança.

O porta-voz da Polícia Federal argentina, Fernando Sostre, disse ao Estado que 600 pessoas ficaram feridas e 40 estavam em estado grave no final da tarde de ontem.

No meio da tarde, horas depois do acidente, a polícia continuava removendo corpos e colocando-os em bolsas de plástico preto. Centenas de curiosos acotovelavam-se atrás do cordão de isolamento e, a cada passagem de um corpo, faziam silêncio. Alguns curiosos aproveitavam para fazer fotos com celulares.

Segundo o secretário de Transportes, Juan Pablo Schiavi, "o trem estava freando, mas não sabemos o que ocorreu nos últimos 40 metros". "O maquinista (que sobreviveu) tem impecável histórico de trabalho e estava descansado. A máquina entrou na estação a 26 quilômetros por hora (embora algumas outras fontes tivessem estimado a velocidade de 45 km/h)."

O secretário - que se recusou a falar com jornalistas - pôs a culpa da gravidade do acidente "no costume que os argentinos têm de viajar nos dois primeiros vagões, para poder descer rápido quando o trem chega na estação".

A ex-candidata presidencial e deputada Elisa Carrió, da Coalizão Cívica, de oposição, criticou o governo: "Esta tragédia é o resultado da corrupção dos ministros da presidente Cristina Kirchner que protegem empresários inescrupulosos. E, além disso, é culpa dos juízes, que não investigam esses delitos. Esses grupos destruíram o sistema ferroviário argentino".

A companhia que controla a linha Sarmiento é a TBA, comandada por Cláudio Cirigliano, integrante de uma família de empresários que prosperou durante o governo de Carlos Menem (1989-1999) e consolidou seu poder no governo Kirchner.

Rubén Sobrero, líder do sindicato dos ferroviários, afirmou que era um "dia de luto". O sindicalista criticou o governo e as empresas de trens pelo péssimo estado do sistema.

Ao longo do último ano, os sucateados trens portenhos sofreram cinco acidentes graves, dois deles com mortes. No total, esses acidentes acumularam 780 feridos, além de 15 mortos. A linha Sarmiento transporta 9 milhões de pessoas por mês.

"Viajamos muito pior do que sardinhas em lata. O transporte é uma droga. Somos tratados sem nenhum respeito. As vacas viajam melhor nos caminhões do que nós aqui", afirmou Nicolás Luis Bravo, comerciante e usuário do serviço ferroviário.