Título: Brasil passará a ter 6 votos em eleição papal
Autor: Lapouge, Gilles
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2012, Vida, p. A17

D. João Braz de Aviz, ex-arcebispo de Brasília, está entre os 22 novos cardeais nomeados pelo papa

O papa Bento XVI nomeou ontem 22 novos cardeais - um deles brasileiro -, numa cerimônia simplificada no Vaticano carregada de simbolismo sobre a sucessão papal. Bento XVI, que completará 85 anos em abril, já começa a diminuir o ritmo de suas atividades e os cardeais anunciados ontem entram para o grupo de elite que elegerá o próximo sumo pontífice.

Com as nomeações do consistório (reunião de cardeais), o Colégio Cardinalício passa a ter representantes de 70 países, com um total de 213 membros, dos quais 125 são eleitores. O Brasil fica com seis votos num eventual conclave.

O catarinense d. João Braz de Aviz, de 64 anos, ex-arcebispo de Brasília e atual prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, está entre os escolhidos. São eleitores d. Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero, d. Eusébio Scheid, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, d. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo emérito de Salvador, d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, e d. Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida.

Os cardeais d. Eugenio de Araújo Sales (Rio), d. Paulo Evaristo Arns (São Paulo), d. Serafim Fernandes de Araújo (Belo Horizonte) e d. José Freire Falcão (Brasília) não participam por terem completado 80 anos, idade limite de acordo com o Direito Canônico.

Este é o quinto consistório convocado por Bento XVI que, em quase sete anos de pontificado, nomeou 84 novos cardeais, dos quais 63 com direito a voto.

Entre os cardeais nomeados ontem destaca-se o nome do americano Timothy Dolan, arcebispo de Nova York cotado como um possível sucessor de Bento XVI.

Na sexta-feira, os cardeais se reuniram com o papa para refletir sobre a propagação da fé em um mundo cada vez mais secularizado. O agora cardeal Dolan afirmou que a evangelização exigirá "amor, gozo e, infelizmente, sangue".

Reflexão. O consistório, na Basílica de São Pedro, ocorreu em meio à repercussão dos últimos dias provocada pela revelação de documentos que apontam para lutas internas, irregulares financeiras e caos administrativo no Vaticano - vazamento de dados batizado de "Vatileaks". Nos jornais italianos, reportagens mostram supostas manobras e conchavos liderados por cardeais na tentativa de influenciar a sucessão papal.

O escândalo começou após a divulgação de cartas do arcebispo Carlo Maria Vigan, vice-administrador do Vaticano que pedia ao papa para não ser transferido depois de expor uma rede de corrupção e clientelismo em contratos assinados com preços inflacionados. Tempos depois, ele foi para a Nunciatura Apostólica de Washington (EUA).

Segundo o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, os documentos são de épocas e natureza distintas. "Precisamos ter firmeza e autocontrole. O governo americano teve seu wikileaks, e agora o Vaticano tem o seu vazamento de documentos com o objetivo de gerar confusão e prejudicar a imagem da Igreja", afirmou. /AP e AFP, COLABOROU JOSÉ MARIA MAYRINK