Título: Queda do lucro compromete os planos de investimentos
Autor: Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2012, Economia, p. B1

Prejuízos nas vendas, como o do último trimestre do ano passado, tendem a afugentar os investidores

Prejuízos nas vendas, como os do último trimestre do ano passado, quando o lucro líquido caiu 52,3% em relação ao mesmo período de 2010, se mantidos ao longo do ano, poderão afastar os investidores e dificultar investimentos previstos para o ano, alerta o analista Luiz Otávio Broad, da corretora Ágora.

A opinião é compartilhada por um dos mais renomados analistas do setor no Brasil. Ele, que pediu para não ser identificado, elogia a política traçada pela Petrobrás a partir de 2002, mas diz que, no reajuste do ano passado, os 2% do diesel foram insuficientes para recuperar as perdas.

"O que acontece com a Petrobrás agora é que se essa situação de prejuízo perdurar pelos próximos trimestres, o que não considero razoável, poderá começar a incomodar o crédito da empresa. Se a situação é recorrente, a Petrobrás vai ter de ajustar preços e investimentos", disse.

Em entrevista ao Estado às vésperas de deixar a presidência da Petrobrás, José Sergio Gabrielli falou que, mantida a defasagem entre produção, consumo e importação, em algum momento será necessário aumentar os preços. Na mesma linha, sua sucessora, Maria das Graças Foster, manifestou a necessidade de um reajuste mais a longo prazo. A gasolina e o diesel não são reajustados porque o governo teme reflexos na inflação.

Em novembro de 2011, a Petrobrás aumentou em 10% o preço da gasolina e em 2% o do diesel nas refinarias. O reajuste não chegou aos postos porque o governo baixou as alíquotas da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os dois combustíveis. Para não onerar os consumidores, o governo abriu mão de parte da receita do tributo.

Em 2010, não houve reajuste. Em junho de 2009, houve, mas para baixo. A Petrobrás reduziu em 4,5% o preço da gasolina. A última alta antes de 2011 foi registrada em abril de 2008, quando o preço da gasolina subiu 10% e o do diesel, 15%.

Diesel. Broad considera que o grande problema da Petrobrás foi ter aumentado o preço do diesel em apenas 2%. Para ele, o combustível deveria ter acompanhado a alta da gasolina, de 10%.

De acordo com William Alves, da PX, a preocupação do governo é pertinente, principalmente em relação ao diesel. "Sem sobra de dúvida, um aumento causaria impacto na inflação. O preço do diesel influi no frete. Estará embutido no feijão que você vai comprar", afirmou.

Adriano Pires, do CBIE, acha que a Petrobrás poderia ter feito três reajustes em 2011. Como não os fez, os prejuízos vieram, "o que aumentou o risco Petrobrás e criou dificuldades de financiamento".

"O governo exagera em usar a Petrobrás como instrumento de política. O combustível deveria ter sido reajustado desde o início do ano passado. A defasagem da gasolina hoje é de 16%. Se aumentar assim, realmente vai impactar na inflação. Poderiam ter acontecido três reajustes pequenos para sinalizar ao consumidor que a gasolina é cara. Estamos caminhando para sermos uma Venezuela, que dá gasolina de graça. Gasolina barata é coisa de governo populista", disse. /S.T.