Título: Jihad não rezou por assad e perdeu a mão
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/02/2012, Internacional, p. A14/15

"Não aceitei rezar pela saúde de Bashar Assad, rasguei sua foto e, por isso, tive minha mão explodida", diz Jihad, ex-morador de Homs, ao Estado. Segundo ele, a crueldade do regime ganhou uma nova dimensão nas últimas semanas e a revanche contra os simpatizantes do regime promete transformar o país em um caos. Jihad foi preso e torturado por semanas em dezembro para que revelasse quem eram os líderes da revolta.

O que era para ser seu fim, acabou sendo sua salvação. "Fui torturado com eletricidade, tive as unhas arrancadas e gritávamos tanto de dor que chegamos a ficar loucos", lembra. "Um dia, os soldados tiraram a foto de Assad que estava na parede e fizeram com que eu e outros rezássemos por ele", diz. "Nos diziam que esse era Deus, e não Alá."

Jihad, que não confirma nem nega ser parte do Exército de Libertação Sírio, se recusou. "Acho que fui louco. Mas me levantei, peguei a foto e a rasguei em pedaços", diz. "Fui espancado e me levaram depois ao comandante da unidade que ordenou que os soldados cortassem minha mão como punição", afirma.

"Fui erguido por uma corda, com cada uma das mãos de um lado. Amarraram um pano nos meus olhos e me disseram que pagaria por não rezar por Assad. Logo depois houve uma explosão e senti muita dor. Senti um líquido quente que escorria e me dei conta de que era meu próprio sangue e desmaiei."

Sua sorte foi que a explosão acabou sendo forte demais e os soldados não conseguiam fazer parar o sangramento. "Como achavam que eu era uma fonte importante no sistema, queriam me manter vivo e me levaram a um hospital", diz. Lá, porém, informantes indicaram sua localização e acabou resgatado pelo Exército de Libertação Sírio que conseguiu tirá-lo do país e levá-lo para ser socorrido na vizinha Jordânia. Jihad garante que está apenas esperando se recuperar para então voltar para a Síria para ajudar na luta armada.

"Hoje, somos todos do Exército de Libertação da Síria", declara. "Quero agora os dedos dos soldados para colocar no lugar na minha mão", diz. Questionado sobre a alegação de Assad de que seriam terroristas, Jihad ironiza: "Se isso tudo é culpa de terroristas, como é que matam e matam e surgem ainda mais terroristas?" / J. C.