Título: Brasil ajudará em libertação de reféns das Farc
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2012, Internacional, p. A15

Vice-presidente colombiano, Angelino Garzón, confirma contato com Brasília para que se ponha em prática a operação de busca dos sequestrados

O governo da Colômbia confirmou ontem que o Brasil vai prestar ajuda na libertação de reféns que a guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) promete empreender nos próximos dias. No fim de semana, as Farc anunciaram que abandonariam a prática de sequestros de civis e libertariam os dez últimos reféns militares que estão sob seu poder.

Ontem, em Genebra, o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, confirmou que tanto a guerrilha quanto o governo colombiano têm "confiança" na atitude e operações brasileiras e as tratativas para a missão estariam sendo feitas para permitir que esses reféns sejam libertados com a ajuda de Brasília.

"O governo colombianos já está trabalhando em um plano logístico com o governo brasileiro", disse o vice-presidente. "Nossa posição é a de que os processos de libertação de pessoas sequestradas foram positivos quando se envolveu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e o governo brasileiro", disse.

"Nossa esperança é que a guerrilha anuncie ainda nesta semana onde estará deixando as pessoas sequestradas, em quais regiões, para que a busca possa ser feita pelo Brasil e pelo CICV", declarou.

Garzón reuniu-se com a ministra de Direitos Humanos do Brasil, Maria do Rosário. Mas garantiu que o assunto não foi abordado neste encontro. "Esses temas são tratados diretamente pelas capitais", disse. Ele insistiu que o envolvimento do Brasil tem sido "fundamental" nesses processos de negociação. Em seu site, a guerrilha anunciou no domingo que estava renunciando à prática de sequestros de civis com fins financeiros e estaria disposta a colocar em liberdade os últimos dez reféns militares que mantém dentro dessa classificação.

Durante décadas, os sequestros têm sido uma das principais fontes de renda da guerrilha mais antiga em atividade na América Latina, formada em 1964.

Garzón, porém, insistiu na posição de Bogotá de que essa iniciativa "ainda não é suficiente" para que o governo do presidente Juan Manuel Santos aceite uma negociação e um diálogo direto com as Farc. "Para que isso ocorra, as Farc precisam antes de tudo renunciar à violência e isso não fizeram ainda", disse.

"Isso é o que o povo colombiano mais quer. O fim da violência", declarou. "Se a guerrilha fizer um gesto integral, podem ter certeza de que o governo terá toda a vontade de construir espaços de paz, de perdão e de reconciliação nacional", declarou.

O último esforço de negociações diretas entre o governo e as Farc ocorreu entre 1998 e 2002, quando Bogotá desmilitarizou uma vasta área em San Vicente del Caguán para abrigar as negociações. O diálogo, porém, fracassou diante da continuidade das operações de ataque das Farc.