Título: Pane elétrica em gerador é hipótese para explicar fogo em base na Antártida
Autor: Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/02/2012, Vida, p. A16

O incêndio na Estação Antártica Comandante Ferraz, na madrugada de sábado - que deixou dois militares mortos e outro ferido, além de destruir 70% das instalações da base brasileira na Antártida -, começou em um dos quatro geradores de energia instalados na casa de máquinas da estação. A causa do incêndio ainda é desconhecida, mas uma das hipóteses discutidas é que tenha ocorrido uma pane elétrica.

As informações foram passadas ao chefe da base, capitão de fragata Fernando Tadeu Coimbra, pelos militares que fracassaram na tentativa de evitar a propagação do fogo. Os geradores funcionam com o óleo diesel anticongelante (gasoil artic) fabricado pela Petrobrás para emprego na base da Antártida.

Os militares confirmaram também que o alarme de incêndio não soou, não se sabe por qual razão. O alerta se deu por gritos de "fogo" entre os colegas, que foram acordando uns aos outros para evacuar o local.

De acordo com depoimentos, o incêndio se espalhou com rapidez por toda a estação porque a praça das máquinas é ligada pelo teto às demais dependências da base. O local onde ficavam os geradores era, portanto, fisicamente associado aos alojamentos, laboratórios, refeitório, camarotes, biblioteca e espaços de lazer da Comandante Ferraz.

Várias explosões provocaram labaredas de até 20 metros de altura durante o incêndio que destruiu a estação. As explosões deslocaram grandes massas de ar, mas fizeram pouco barulho, o que intrigou os pesquisadores e funcionários civis da Marinha que acompanhavam à distância a tentativa dos militares de conter as chamas.

Os tanques que armazenavam milhares de litro de gasoil artic não chegaram a ser atingidos pelo fogo. Se o incêndio alcançasse os tanques, as explosões seriam ainda mais intensas e não haveria sobreviventes, avaliaram os pesquisadores nas conversas mantidas nos dois últimos dias.

O capitão de fragata Coimbra conversava com cientistas em um dos ambientes quando os gritos de "fogo" começaram.

A estação foi evacuada imediatamente. Poucos dos que estavam nos alojamentos ainda conseguiram salvar dinheiro, documentos e celulares.

Refúgio. Com a roupa que vestiam, alguns calçados apenas com chinelos, correram para fora da estação, onde a temperatura girava em torno de - 5 °C.

O grupo se refugiou em dois módulos isolados, um de meteorologia e outro de química. Neles, por rádio, acompanharam aterrorizadas as mensagens trocadas pelos militares empenhados em combater o incêndio.

Logo souberam que o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto dos Santos estavam mortos.

O sargento Luciano Medeiros, com queimaduras, foi levado para os abrigos e amparado pelos civis, que revezavam-se na aplicação de pomadas analgésicas. Outro grupo tentou ajudar, entrando no mar semicongelado para abastecer as mangueiras. Foram registrados casos de hipotermia - queda da temperatura corporal, o que pode causar a morte - entre eles.

Com o corpo enrijecido pelo frio congelante, um dos que foram até a água teve os pés aquecidos de forma inusitada: eles foram colocados sob as axilas dos colegas até que a circulação sanguínea se restabelecesse.

Como nem todos conseguiram levar os agasalhos, houve distribuição dos casacos impermeáveis guardados fora da Comandante Ferraz por pesquisadores e militares que costumavam navegar na Baía do Almirantado, em cuja costa foi instalada a base brasileira, há 29 anos.

Corpos. Os integrantes da base - 26 pesquisadores, 1 alpinista e 12 funcionários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, além do primeiro-sargento Luciano Gomes Medeiros, ferido com queimaduras - chegaram ao Rio na noite de domingo. Um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) pousou ontem à tarde na base chilena Eduardo Frei, para trazer os corpos dos dois militares mortos durante o incêndio de sábado. A previsão era de que o voo com os corpos pousasse hoje, às 7h30 , na Base Aérea do Galeão, no Rio.