Título: Dilma exige o fim das brigas internas na diretoria do Banco do Brasil
Autor: Domingos, João ; Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2012, Economia, p. B1

JOÃO DOMINGOS , EDNA SIMÃO / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Na certeza de que as brigas na diretoria do Banco do Brasil poderão respingar no governo e afetar a credibilidade da instituição em um mercado sensível, a presidente Dilma Rousseff exigiu do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que ponha fim às disputas estimuladas por grupos do PT.

O Palácio do Planalto tem a informação de que as brigas internas no BB alimentam os boatos sobre desavenças entre o ministro da Fazenda e seu secretário executivo, Nelson Barbosa. Este último foi chamado ontem pela presidente para uma conversa no Palácio da Alvorada. Assim como Mantega, recebeu um ultimato para pôr fim às brigas no BB.

De acordo com um auxiliar da presidente, Dilma fica muito irritada toda vez que lê uma nota na imprensa sobre a intensa disputa pelo poder no BB porque, logo em seguida, aparece outra, sempre sobre desentendimentos entre Mantega e Barbosa.

Tudo isso num momento em que o Ministério da Fazenda mal se refez do desgaste da demissão do presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci, que saiu no rastro de suspeitas de envolvimento em suposto esquema de desvio de dinheiro para paraísos fiscais. Sem ter o que dizer sobre a demora na demissão de Denucci, Mantega jogou a culpa pela nomeação no PTB. Na avaliação de Dilma, foi uma resposta ruim.

Segundo informações de bastidores do Planalto, as disputas no BB são puxadas pelo presidente da instituição, Ademir Bendine, e pelo presidente da Previ (fundo de previdência dos funcionários), Ricardo Flores. Os dois são funcionários de carreira e foram escolhidos por Mantega. Bendine é ligado ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência); Flores transita bem no PT e no PMDB. Vivem em disputa, cada um temendo levar uma rasteira do outro.

Pela ordem dada por Dilma, o ministro terá de mandá-los se entender. Se isso não ocorrer, deverá optar por um dos dois. Por enquanto, Bendine tem certa vantagem em relação a Flores.

O presidente da Previ não quis se manifestar sobre a orientação da presidente. Bendine também não quis falar, mas sua assessoria esclareceu que ele seguirá a orientação de Mantega ou de Nelson Barbosa, porque a instituição é ligada à Fazenda. O BB informou ainda que as relações entre Bendine, Mantega e Barbosa são as melhores possíveis.

Na transição do governo Lula para o de Dilma, Flores foi escolhido para substituir Sérgio Rosa, que chegou a ser cotado para coordenar a campanha de Dilma em 2010. Mas Rosa foi parar na Brasilprev. Flores não era o preferido de Rosa nem de Bendine, que queria Paulo Caffarelli, então vice-presidente de Negócios e Varejo. Mas, na época, Marina Mantega, filha do ministro da Fazenda, foi acusada de tráfico de influência com Caffarelli. Mantega teve de escolher Flores.

De 1998 para cá, Bendine é o presidente com mais tempo à frente do BB. Além disso, muitos o veem com a força certa em outra disputa, do PT com o PMDB. É ele que tem contido tentativas de avanço de peemedebistas sobre o BB. / COLABOROU VERA ROSA