Título: Movimento quer fortalecer a indústria
Autor: Silva, Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2012, Economia, p. B4

Desta vez, empresários e sindicalistas estão do mesmo lado. Eles pedem medidas que barrem o que classificam de desindustrialização do País

Um grupo de 27 entidades, das quais 19 empresariais e oito sindicais, quer compromisso efetivo do governo para barrar o processo de desindustrialização no País. Eles defendem medidas de proteção contra importados, desoneração de investimentos e ações macroeconômicas relacionadas a juros e câmbio. Do contrário, empresários e trabalhadores da indústria de transformação prometem ir às ruas em protestos por todo o País em defesa da produção nacional.

O movimento reúne entidades como Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Abimaq (máquinas e equipamentos), Sindipeças (autopeças), Abit (têxtil), Força Sindical e CUT. Na segunda-feira, estava confirmado encontro com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, para debater o tema na sede da Fiesp, em São Paulo. Na tarde de ontem, ele cancelou presença.

"É lamentável, pois o ministro do Desenvolvimento não pode ter nenhum compromisso mais importante neste momento do que um encontro com o setor produtivo", afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Segundo ele, durante todo o ano passado, o governo foi alertado sobre a perda de competitividade do País e o déficit da balança comercial, mas quase nada foi feito.

Pimentel propôs a presença de outro representante do ministério, mas as entidades recusaram. "Se já é difícil obter compromisso do ministro, imagina de um representante", diz Skaf.

A balança comercial do setor de manufatura teve saldo negativo recorde de US$ 93 bilhões em 2011. A indústria de transformação, que em 1985 representava 27% do PIB, viu essa participação cair a cerca de 16% no ano passado e a tendência é de continuidade de queda em 2012.

Mesmo sem Pimentel, o grupo se reunirá para finalizar um manifesto, chamado de "Grito de alerta em defesa da produção e do emprego". O texto traz as razões do movimento e sugere medidas emergenciais apresentadas em cinco itens: Macroeconômicas; Investimento produtivo como promotor do crescimento econômico; Defesa comercial/inversão do quadro de invasão das importações; Fim de incentivo fiscal à importação; e Crescimento industrial como prioridade da política econômica.

O manifesto é "simbólico" e não será entregue ao governo. "Não adianta levar documento, o que precisamos é de providências", diz Skaf. "Não queremos que o governo nos receba só para dialogar, queremos medidas concretas e, se isso não ocorrer, vamos partir para manifestações." Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, ressaltou que, neste momento, "a única coisa que une trabalhadores e empresários é a defesa da indústria nacional para enfrentar a onda de importações que tem quebrado muitas empresas".

O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, lembrou que a política de juros altos e câmbio valorizado já promovia desindustrialização, mas o quadro está se agravando.

Guerra. As entidades têm um calendário preestabelecido para manifestações em várias capitais, a partir de 15 de março, mas podem optar por um dia único de protestos em todo o País.

Na terça-feira, a primeira ação conjunta será a visita a todos os senadores, incluindo o presidente do Senado, José Sarney, para pedir urgência na aprovação da Resolução 72. A medida acaba com a guerra fiscal travada em vários Estados que oferecem benefícios para o desembarque de produtos importados em seus portos. Por causa da entrada desses importados, segundo as entidades, 770 mil empregos deixaram de ser criados desde 2007.

O diretor-superintendente da Abit, Fernando Pimentel, diz que a guerra fiscal garante aos importados benefícios relativos ao ICMS que o produto nacional não tem. "Não se trata de xenofobia, o que seria retrocesso, mas, se nada for feito, o Brasil ficará para trás, pois outros países estão defendendo sua indústria."