Título: Plano prevê aumento do uso do etanol
Autor: Magossi, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2012, Economia, p. B5

Setor se surpreendeu com anúncio do governo e desconfia de plano com ações de longo prazo

O setor sucroalcooleiro foi surpreendido duplamente ontem com a divulgação de um Plano Estratégico do Setor Sucroalcooleiro pelo governo federal. Além de não esperar o anúncio nesta semana de carnaval, constam do documento apenas medidas já anunciadas em outros momentos.

O setor ficou temeroso de que o anúncio deste pacote seja um sinal de que um verdadeiro conjunto de medidas de longo prazo para o setor não seja elaborado pelo governo tão cedo.

O plano divulgado ontem pelo Ministério da Agricultura prevê a ampliação da participação do etanol hidratado para cerca de 50% a 55% da frota de carros leves do Brasil. Porém, não considera a atual situação da indústria nem as condições do mercado em que o próprio governo mantém os preços da gasolina congelados há cinco anos, o que tira a competitividade do hidratado na maior parte do País.

O documento divulgado pelo Ministério da Agricultura afirma que o plano está apoiado em três medidas para atender o aumento da demanda interna e externa de etanol. A primeira delas seria a renovação de 6,4 milhões de hectares de cana-de-açúcar até 2015, com um custo estimado em R$ 29 bilhões.

A segunda ação seria investir R$ 8,5 bilhões para recuperar a capacidade instalada da indústria, que opera com capacidade ociosa de mais de 100 milhões de toneladas de cana. A terceira e última medida seria elevar a oferta de matéria-prima para as indústrias. Nas três medidas, estão previstos investimentos da ordem de R$ 60 bilhões até 2015. Os recursos viriam do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Sem novidade. Fontes explicam que estas linhas já encontram-se disponíveis, pelo menos na teoria. Segundo o executivo de uma multinacional que recentemente chegou ao País, na prática, o dinheiro liberado para a renovação da cana no BNDES ainda não está nos bancos. "Mas o período de plantio já está acabando. Se os recursos não chegarem no momento definido, não adiantarão nada", explica.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) informou que as medidas realmente já são conhecidas do setor e do mercado e que são benéficas, mas não existe nenhuma novidade.

Executivo de um dos principais grupos sucroalcooleiros do País afirmou que o plano divulgado ontem coloca premissas e metas a serem atingidas - como a manutenção de um mercado de até 55% da frota de veículos leves para o hidratado - sem levar em consideração a atual situação da indústria nem do mercado. O fato do preço da gasolina permanecer praticamente inalterado nos últimos cinco anos retirou a competitividade do etanol hidratado em quase todo o País.

"Como vamos produzir mais hidratado se ele apenas fica competitivo em relação à gasolina quando está abaixo do custo de produção?", disse um produtor, espantado pelas premissas do programa divulgado. "Voltaremos a ter mais de 50% do mercado de combustíveis quando os investidores tiverem segurança para retornar os investimentos."

Além disso, o governo anunciou na última semana o preço teto para o leilão de energia que acontecerá em março. O preço, de R$ 112 por Megawatt/hora (MWh), é 20% inferior ao preço do último leilão, que foi de R$ 139. Para um projeto de cogeração de bioeletricidade de cana ser viável, o preço deve beirar os R$ 140 por MWh.