Título: Grécia lança oferta de troca de dívida
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/02/2012, Economia, p. B6

Reestruturação "voluntária" de dívidas privadas de 107 bilhões prevê que papéis terão corte de 53,5% em relação ao valor original

A Grécia deu ontem o primeiro passo de um longo caminho para apagar a crise das dívidas soberanas, iniciada há dois anos. Em oferta oficial, a Agência Oficial de Gestão da Dívida Pública (PDMA) lançou uma convocação aos credores privados do país para a recompra de € 107 bilhões em obrigações. Em troca, eles receberão novos papéis com um corte de 53,5% em relação ao valor original de face e com datas de vencimento que variam de 11 a 30 anos. Um dos principais defensores da operação, até o ministro de Finanças da Alemanha tem dúvidas.

A oferta foi lançada às 17h30min pela PDMA em um site na internet criado para a ocasião, e abre a contagem regressiva para que bancos, companhias de seguros e fundos de investimentos optem pela troca. "Os títulos convidados a participar do Private Sector Involvement (PSI) representam um valor total de cerca de € 206 bilhões", explica a agência em seu comunicado. O objetivo das autoridades gregas é obter a adesão de ao menos 75% dos detentores de obrigações. Se o porcentual não for atingido, adverte o texto, "a República Helênica não realizará a operação".

A advertência é uma forma de pressionar os investidores a aderirem - com exceção dos americanos, que serão chamados em um procedimento à parte. A alternativa à reestruturação "voluntária" seria a suspensão unilateral dos pagamentos, o que na prática representaria a falência do país. Estão implicados na convocação os credores com títulos com vencimento entre 20 de março de 2012 e julho de 2057. Logo, já serão envolvidos os € 14,5 bilhões que representaram a ameaça de falência da Grécia nas últimas semanas. Como a maior parte das dívidas pertence a bancos gregos, as metas do Ministério das Finanças devem ser alcançadas.

As novas obrigações serão premiadas com juros de 2% para títulos com maturidade entre 2013 e 2015, 3% para os com vencimento entre 2016 e 2020, 3,65% para dívidas de 2021 e 4,3% para títulos com datas a partir de 2022. O prêmio varia de 50% a 80% dos yields que vinham sendo cobrados pelos mercados financeiros, quando a Grécia ainda tentava refinanciar suas dívidas sem o apoio da União Europeia.

Negociações. Os termos da troca de títulos haviam sido negociados entre o governo do primeiro-ministro, Lucas Papademos, e os representantes do Instituto Internacional de Finanças (IIF), o órgão que representa 600 grandes investidores de todo o mundo. Na madrugada de segunda-feira, entretanto, os termos que haviam sido acertados foram renegociados pelos ministros de Finanças da zona do euro reunidos no Eurogrupo. Os executivos estavam convencidos de que o corte de 50% das obrigações não seria suficiente à Grécia para reduzir a relação dívida-PIB dos atuais 159% para 120%, e sim para 129%. Por isso foi definido um corte adicional de 3,5%.

Ontem, Charles Dallara, presidente do IIF, demonstrou expectativa quanto ao sucesso da iniciativa. "Eu sinto que esta operação se inscreve em um processo de mudança para a zona do euro", afirmou.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 25/02/2012 06:31