Título: Batalha brasileira no câmbio se complica
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2012, Economia, p. B6

A injeção de meio trilhão de euros do Banco Central Europeu (BCE) aumentou o sentimento de urgência na equipe econômica brasileira em torno da necessidade de o governo voltar a deflagrar novas medidas para proteger o real de uma valorização excessiva frente ao dólar.

Embora considerada acertada pelo Brasil, a estratégia das autoridades europeias trouxe um complicador adicional na batalha que o Brasil - em especial o ministro da Fazenda, Guido Mantega - trava no câmbio.

O volume de recursos disponíveis nos mercados mundiais, que já estava abundante pela injeção feita pelo banco central americano, se ampliou ainda mais com a nova ação de Frankfurt. Para o governo brasileiro, os 500 bilhões podem gerar nova onda de reação dos países para proteger suas moedas.

Na Fazenda, Mantega tem monitorado o mercado para decidir o melhor momento de agir e tem mantido reuniões com sua equipe para discutir novas medidas. O câmbio é uma variável com impacto imediato. E o ministro já conseguiu ampliar no ano passado os seus poderes de atuação no mercado cambial e tem hoje um arsenal maior, segundos fontes, para surpreender o mercado financeiro. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, por exemplo, afirmou recentemente que o governo pode emitir títulos para o Fundo Soberano do Brasil atuar no câmbio com "poderes ilimitados".

Alinhada com a Fazenda, a direção do Banco Central tem afirmado diversas vezes que pode ser ainda mais agressiva para segurar o dólar. A preocupação é que muitos investidores tomem o dinheiro emprestado pelo BCE para investir em ativos rentáveis, como a renda fixa no Brasil. Antes que bilhões atravessem o Atlântico, o presidente do BC, Alexandre Tombini, alertou que "sempre entrará" no mercado para manter as condições adequadas no mercado cambial. Ele tem lembrado que o País tem experiência em intervir para impedir a ação de especuladores.