Título: Para analistas, efeito sobre o dólar, se vier, só em 4 ou 5 meses
Autor: Fernandes, Adriana ; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2012, Economia, p. B3

Moeda americana encerrou a quinta-feira valendo R$ 1,712; no acumulado do ano, queda já beira 8,50%

Os investidores iniciaram março reforçando as apostas na queda do dólar, apesar das advertências da equipe econômica e da presidente Dilma Rousseff de que não devem tolerar uma valorização acentuada do real. A moeda americana encerrou a primeira sessão do mês em baixa de 0,23%, cotada por R$ 1,712. No acumulado do ano, a desvalorização do dólar ante o real já chega a 8,40%.

Ou seja, foi limitado o impacto da medida do Ministério da Fazenda de elevar o IOF sobre os empréstimos externos com prazo de até três anos. O recuo também ocorreu a despeito dos dois leilões de compra no mercado à vista pelo Banco Central.

O operador Ovídio Pinho Soares, da corretora Interbolsa Brasil, disse que as expectativas de novos ingressos de recursos estrangeiros no País continuam sustentando a tendência de baixa do dólar ante o real.

Desse modo, afirmou ele, "a medida de hoje (ontem) da Fazenda até poderá vir a ter algum efeito sobre a formação de preço do dólar em médio prazo, em quatro a cinco meses, porque no curto prazo não teve impacto, já que é uma ação paliativa".

Para ele, o governo deveria ampliar o prazo de incidência de IOF sobre empréstimos no exterior com prazos entre cinco e dez anos, em vez de apenas três anos.

"Os grandes emissores de bônus corporativos no exterior estão "internalizando" os recursos captados e também há o fluxo de recursos mundial rumo aos países dos Brics (além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul", observou. "Essa migração de dinheiro para cá sustenta a trajetória descendente do dólar", completou Soares.

Ele disse ainda que, embora o BC tenha feito dois leilões para comprar dólar ontem, isso não significa que houve grande lote de entrada de recursos, mas que a autoridade monetária quer avisar que está de olho no mercado. "Esse sinal não intimida o mercado, mas deixa os agentes financeiros, de certa forma, na defensiva", explicou.

Jogo de gato e rato. O estrategista Tony Volpon, da Nomura Securities, disse que o governo brasileiro tem se esforçado para conseguir diferenciar o capital especulativo do produtivo, num jogo de gato e rato.

"Todo mundo sabe que há empresas mascarando investimento estrangeiro direto (conhecido pela sigla IED) para evitar juros", disse, em referência a multinacionais que enviariam dinheiro às subsidiárias brasileiras para aplicações no mercado financeiro, mas, oficialmente, como se fosse IED.