Título: Governo vai manter atuação de surpresa
Autor: Fernandes, Adriana ; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2012, Economia, p. B3

Imprevisibilidade continua a pautar operação no câmbio, diz Guido Mantega

A conta-gotas. Com a expectativa de um fluxo de dólares mais forte para o País por um período prolongado, o governo vai continuar calibrando a política de defesa do real com medidas de surpresa, aliadas com intervenções mais fortes do Banco Central (BC) no mercado de câmbio.

A equipe econômica não pretende taxar a entrada de investimentos produtivos, como deixou claro ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmando que eles, os chamados Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), são "bem-vindos".

Mas o governo estuda criar um sistema mais rigoroso de monitoramento do ingresso do capital estrangeiro no País por esse canal e, assim, barrar possíveis desvios. Será necessário criar mecanismos para diferenciar essa entrada e fiscalizar o uso do dinheiro de forma mais eficaz.

Depois do aperto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empréstimos externos, a equipe econômica vai acompanhar o comportamento da esperada entrada de dólares, por causa da ação do Banco Central Europeu (BCE) de injetar mais recursos nos bancos europeus, para definir os próximos passos. O governo, segundo fontes ouvidas pelo Estado, poderá voltar a agir se a chamada "guerra cambial" se intensificar.

Arsenal. As operações de arbitragem no mercado de derivativos - quando investidores lucram com a diferença entre o juro baixo praticado no exterior e a taxa Selic no Brasil - continuam no radar do governo e movimentos especulativos mais fortes serão contidos com medidas mais duras, disse uma fonte. O governo tem um arsenal grande à disposição depois que conseguiu aprovar no Congresso lei que dá poderes amplos ao Conselho Monetário Nacional (CMN) para regular esse mercado.

"Os que trabalham na órbita da especulação devem ser penalizados", avisou o ministro. A equipe econômica vai pautar cada vez mais a sua ação no câmbio com ajuda do efeito "imprevisibilidade". "Antigamente, o investidor ou o especulador tinha certeza que o real ia se valorizar. Ao fazer essa aposta, ele reforçava a tendência de valorização. Agora, nem sempre há essa tendência. Tem dia que o investidor ganha, tem dia que perde", disse Mantega. "Temos feito intervenções que são eficazes. Aí, o investidor pensa duas vezes antes de apostar", completou.

Para ampliar a imprevisibilidade, a ideia de usar o Fundo Soberano do Brasil (FSB) como arma cambial voltou a ganhar força no governo. O fundo pode atuar comprando dólares em ações de surpresa. "Se necessário for, poremos o FSB também para comprar dólar. Por enquanto, o BC está fazendo isso e está sendo suficiente", disse Mantega.

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