Título: FMI vê dificuldade para juro real do Brasil cair
Autor: Moura, Rafael Moraes ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2012, Economia, p. B4

Economista aponta problema na acumulação de poupança interna

Em um estudo sobre o "quebra-cabeças" da taxa real de juros brasileira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) sugeriu ser impossível a redução desse indicador em médio prazo, para adequá-lo ao mesmo nível de economias similares à do Brasil e também seguidoras de metas de inflação. A maior trava para se alcançar esse objetivo estaria na capacidade de o País acumular poupança interna, especialmente por um ajuste nas contas públicas. A Coreia do Sul e a Indonésia, diz o texto, têm poupança equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil, de 16,5% do PIB.

"Como ilustração, se a média da poupança doméstica do Brasil aumentar de 16,5% do PIB para a do México (22,6% do PIB), o modelo (usado pelo autor) prevê que a taxa de juros real declinaria em mais de 2 pontos porcentuais", informa o estudo. "Uma redução total de 4 a 5 pontos porcentuais iria requerer um aumento na poupança doméstica aos níveis da Tailândia e da Coreia do Sul (ao redor de 30% do PIB), o que nunca foi observado na história brasileira."

Alcançar o nível do México, conclui o estudo, seria mais plausível para o Brasil. Assinado pelo economista Alex Segura-Ubiergo, o texto "O Quebra Cabeças da Alta Taxa de Juros do Brasil" não chega a abordar a discutida necessidade de o Tesouro garantir a competitividade de seus títulos com altas taxas de retorno para, dessa forma, financiar o governo.

O próprio autor menciona haver outras variáveis determinantes da alta taxa de juros e sugere um estudo sobre os efeitos dos financiamentos públicos com taxas de juros subsidiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No estudo, a taxa de juros é analisada essencialmente como instrumento de política monetária, ou seja, de controle de pressões inflacionárias, e como indicador suscetível à condição das contas públicas.

Segundo o autor, a taxa real de juros brasileira foi a mais alta entre 15 países emergentes comprometidos com a meta de inflação, entre 2000 e 2009. A Turquia aproximou-se do Brasil nesse quesito, e ambos ficaram bastante acima da curva das demais economias analisadas. O estudo se estendeu de 1980 a 2009 e envolveu a hiperinflação brasileira dos anos 80, os pacotes para reduzir os preços e o sucesso do Plano Real, desde 1994.

Os cálculos de Segura-Ubiergo apontaram ter sido a taxa de juros real em 2009 de menos de 5% ao ano, o mais baixo nível histórico. Entre 2006 e 2009, teria ficado em 8% ao ano, e nos cinco anos anteriores, em 10% ao ano. Entre o início dos anos 80 e a metade da década de 90, teria caído de 40% para 20% ao ano.