Título: UE conclui socorro à Grécia, mas bloqueia € 71,5 bi
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2012, Economia, p. B6

Em reunião de chefes de Estado e de governo, Atenas não consegue convencer que aplicará 38 medidas do plano de austeridade

ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE / PARIS - O Estado de S.Paulo

A União Europeia deu ontem uma amostra de como pretende tratar o governo da Grécia daqui para a frente. Em reunião de cúpula aberta em Bruxelas, chefes de Estado e de governo sacramentaram o acordo para a concessão de um pacote de € 130 bilhões em socorro a Atenas - mas anunciaram o bloqueio de € 71,5 bilhões até segunda ordem.

O objetivo da medida foi pedir garantias ao governo de Lucas Papademos de que implantará 38 medidas previstas no plano de austeridade imposto pela UE e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Caso as garantias sejam dadas, os recursos devem ser liberados em até uma semana. Horas antes do bloqueio parcial promovido por presidentes e primeiros-ministros, entretanto, os ministros de Finanças da zona do euro haviam saudado os esforços realizados por Atenas. "Nós temos boas informações sobre o desenvolvimento dos engajamentos assumidos pela Grécia" afirmou o ministro de Finanças da França, François Baroin.

Wolfgang Schaueble, ministro de Finanças da Alemanha, também havia se mostrado satisfeito. "O que ouvi até aqui parece indicar que a Grécia está progredindo. É a razão pela qual eu creio que vamos dar um grande passo à frente hoje."

Para Jean-Claude Juncker, coordenador do Eurogrupo - o fórum de ministros -, o país havia "preenchido todas as condições para obter uma ajuda". "A Grécia tomou as medidas que pedimos, e as coisas avançam bem", disse o luxemburguês.

Os elogios das autoridades ao longo da tarde animaram os mercados financeiros, que registraram fortes altas. Em Londres, a bolsa subiu 1,02%; em Frankfurt, 1,25%; e em Paris, 1,37%.

Dívida. Na mesma sessão, os líderes políticos deram aval para o programa de reestruturação da dívida privada da Grécia, um montante que chega a € 206 bilhões. Destes, € 107 bilhões serão "perdoados" por um programa de troca de títulos soberanos antigos por novos, que estão sendo oferecidos pelo Tesouro grego. Até ontem, havia dúvidas sobre se a Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA, na sigla em inglês) avaliaria o calote parcial da Grécia como um "evento de crédito", o que caracterizaria calote.

A questão foi esclarecida pela associação, que informou que os credit default swaps (CDS), o mecanismo de seguro de dívidas, não será acionado no caso grego - evitando calote técnico.

Fundo. O terceiro assunto na pauta da cúpula, o aumento de recursos do Mecanismo Europeu de Estabilidade - o fundo de socorro da União Europeia -, ainda gera controvérsia. O governo da chanceler Angela Merkel continua oposto ao reforço dos recursos da instituição, que hoje conta com € 500 bilhões.

No último fim de semana, durante reunião de ministros do G-20, o governo alemão voltou a recusar as pressões para o aumento de recursos por meio da transferência de € 250 bilhões hoje em poder do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, que será extinto em junho.