Título: O locador infeliz que aprendeu a ser empresário
Autor: Scheller, Ferrnado
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2012, Negócios, p. B12

A história da Ri Happy não começou com a faísca de ambição que geralmente move os empresários iniciantes. A entrada do médico pediatra Ricardo Sayon no mundo dos brinquedos ocorreu por causa de uma relação infeliz entre proprietário e inquilino. Ele alugava um prédio para uma loja de brinquedos que faliu e viu-se, de repente, como fiel depositário do estoque. Para agradar o marido, a esposa de Sayon decidiu fazer algo para deixar o "Ricardo feliz", batizando o negócio de Ri Happy. Essa foi, em 1988, a gênese do negócio que hoje fatura R$ 800 milhões.

Os primeiros anos não foram auspiciosos. Mesmo após atrair um sócio e abrir meia dúzia de lojas, Sayon hoje admite que a Ri Happy dos primeiros anos era uma "cópia malfeita" do varejo de brinquedos da época. Era um "supermercado" para crianças que, apesar de especializado, não oferecia nada a mais para o cliente do que a Lojas Americanas, por exemplo.

Foi somente quando Sayon decidiu juntar a experiência de pediatra à atividade empresarial que as coisas começaram a melhorar. Ao priorizar o atendimento, o médico passou a treinar pessoalmente os funcionários. Ia às lojas no fim de semana para repassar noções básicas de desenvolvimento infantil aos vendedores. Foi uma forma de dar um sentido às recomendações de faixa etária das fabricantes e de encontrar um diferencial para o negócio. "A nossa imagem mudou. Aos poucos, começamos a divulgar informações de utilidade pública, como campanhas de imunização, a criar uma relação com o cliente."

Ultimamente, no entanto, o empresário sentia que chegava a hora de passar o bastão. Aos 60 anos, o dono de loja de brinquedos por acaso tinha a impressão que o negócio havia ficado muito grande. Com uma estrutura complexa, de mais de 100 lojas, temia perder a posição de liderança conquistada ao longo dos anos. "Acho que a Ri Happy cresceu tanto que transcendeu a nossa capacidade administrativa."

Há algum tempo, Sayon vinha procurando uma porta de saída, participando de conversas com diversos investidores. No último ano e meio, aproximou-se do Carlyle, mas fez questão de manter uma fatia do negócio e de ganhar uma cadeira no conselho de administração. Selou o próprio destino na quarta-feira. E hoje promete ser um dia difícil: o empresário comunicará aos 2,3 mil funcionários, pela TV Ri Happy, que deixará o comando do negócio imediatamente. / F.S.