Título: Opções de sucessor são poucas e não têm aval dos quartéis
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Internacional, p. A10

Personalista e centralizador, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, sempre evitou que seus colaboradores no governo - mesmo os mais próximos - se destacassem a ponto de se tornarem uma alternativa a ele mesmo. A estratégia garantiu, até agora, sua sobrevivência política sem que ninguém da ala bolivariana lhe pudesse fazer sombra. No entanto, a ausência de quadros pode lançar o país num caos institucional, caso a doença de Chávez o impossibilite de governar.

Esse cenário se complicaria ainda mais na hipótese de a ausência se dar antes da eleição presidencial de 7 de outubro - para a qual a oposição se aglutinou em torno de um candidato único, Henrique Capriles, após primárias das quais participaram 3 milhões de eleitores. O vice de Chávez, Elías Jaua, era considerado até meses atrás uma figura pouco expressiva do chavismo. Para muitos analistas venezuelanos, Jaua teria pouca margem de manobra política para conduzir a campanha eleitoral chavista.

Embora tenha sido concebido para unificar as as forças do chavismo, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) divide-se entre caciques que, até aqui, se limitavam a disputar a atenção de Chávez - como o tenente da reserva e ex-vice-presidente Diosdado Cabello, o chanceler, Nicolás Maduro, e o governador de Barinas e irmão de Chávez, Adán.

"A questão central de uma possível saída de cena repentina de Chávez está nos quartéis", disse ao Estado uma fonte diplomática de Caracas sob condição de anonimato. "Desde a frustrada tentativa de golpe de Estado contra ele, em 2002, Chávez acelerou a transformação do comando militar em 'guardião' de sua revolução bolivariana. Esses líderes militares veem com desconfiança as poucas alternativas para a sucessão de Chávez no âmbito do PSUV. Também não são novidade as ameaças veladas dos oficiais graduados de desconhecer o resultado de qualquer eleição que não tenha Chávez como vencedor. E não são poucas as declarações de oficiais de que não aceitariam outro comandante-chefe que não fosse o atual presidente."

O apelo em favor do envolvimento dos militares com a revolução chavista partiu, em diversas ocasiões, do próprio Chávez. "Os militares devem empunhar sua espada para defender as garantias sociais", discursou numa recente cerimônia de graduação de cadetes em Caracas.