Título: Após dias de silêncio, governo diz que cirurgia de Chávez foi bem-sucedida
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Internacional, p. A10

Tensão. Vice anuncia que líder venezuelano teve tumor removido em nova operação em Cuba; membros da oposição acusam chavistas de tentar "tirar proveito político do silêncio", em plena campanha para as eleições presidenciais marcadas para 7 de outubro

O vice-presidente da Venezuela, Elías Jaua, anunciou ontem em discurso na Assembleia Nacional que o presidente Hugo Chávez foi operado com sucesso em Cuba. Segundo Jaua, o tumor na região pélvica do líder bolivariano foi extraído e ele está em boas condições físicas. Chávez está em Havana desde sexta-feira após anunciar a descoberta um tumor "provavelmente maligno" no mesmo local onde retirou um tumor no ano passado.

De acordo com Jaua, Chávez deu a orientação de dar máxima transparência a seu tratamento. Os resultados dos exames feitos em Cuba devem ser divulgados nos próximos dias. Eles determinarão o tipo de tratamento que será aplicado.

"A intervenção cirúrgica ocorreu conforme o previsto e o resultado foi satisfatório", disse o vice-presidente. "O presidente Chávez está em boas condições físicas e foi planejado um cronograma de recuperação física para os próximos dias."

Ainda segundo o vice-presidente, o tumor e o tecido ao redor dele foram removidos e não houve complicações. A cirurgia teria durado cerca de duas horas. Jaua agradeceu também a "solidariedade do povo venezuelano", a Fidel e Raúl Castro, que acolheram Chávez em Cuba, e à equipe médica do presidente.

Chávez, de 57 anos, recebeu na semana passada autorização da Assembleia Nacional para ir a Cuba fazer a cirurgia de remoção do tumor. Antes de partir, o presidente venezuelano prometeu vencer as eleições presidenciais de outubro, nas quais disputará seu quarto mandato "com câncer ou sem câncer", mas se disse preparado para "o pior dos cenários", referindo-se à possibilidade de a lesão ser maligna.

Após quatro dias em Cuba sem informações oficiais sobre o estado de saúde do presidente, a oposição venezuelana contestou a maneira adotada pelo governo para lidar com a doença. Segundo os antichavistas, falta transparência.

Para o ex-governador de Zulia, Oswaldo Paz, ex-aliado de Chávez, a falta de informações contribui para os rumores sobre a saúde do presidente. "Não se pode cair na tentação de transformar a doença em um tema eleitoral", disse Paz. "Mas é fato que hoje, na Venezuela, há um vazio de poder."

A oposição venezuelana cobrou a transferência de poder de Chávez para Jaua. Ontem, no entanto, o vice-presidente garantiu que, apesar de convalescente, o líder bolivariano está informado de todos os assuntos de Estado.

Na semana passada, a Assembleia Nacional, de maioria chavista, rechaçou a possibilidade de o presidente transmitir suas funções a Jaua.

Para o ex-candidato à presidência Teodoro Petkoff, diretor do jornal Tal Cual, o governo tenta manipular o povo venezuelano. "A manipulação que Chávez tenta é evidente. Ele tenta obter proveito político do silêncio", disse à agência EFE.

Alerta. Ontem, o irmão de Chávez e governador do Estado de Barinas, Ádan, publicou um artigo na imprensa local no qual pediu lealdade a Chávez e à revolução bolivariana. Ele também alertou os chavistas para que estejam vigilantes sobre o papel desempenhado por "traidores infiltrados no chavismo mascarados de progressistas".

Ádan é considerado por analistas um dos possíveis sucessores de Chávez, ao lado do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, do ministro de Relações Exteriores, Nicolás Maduro, e do vice-presidente Jaua. / EFE, ASSOCIATED PRESS e REUTERS