Título: Resgate de chata com óleo pode ser interrompido
Autor: Torres, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Vida, p. A14

Destruição da estação pode impedir início da operação nos primeiros 15 dias de março; depois disso, o mar congela

A destruição da Estação Antártica Comandante Ferraz, ocorrida após um incêndio na madrugada de sábado, ameaça interromper o planejamento da retirada da chata com 10 mil litros de combustível que naufragou em dezembro passado na Baía do Almirantado.

Se não começar na primeira quinzena de março, a tentativa de resgate terá de ser adiada para o final do ano, por causa da chegada do inverno, quando as temperaturas descem a até -30°C e o mar congela.

No caso de adiamento, os riscos de vazamento aumentam. De acordo com a Marinha, a chata, a 40 metros de profundidade, manteve intactas suas estruturas ao se chocar contra o solo marinho. Mas, quanto mais rapidamente for retirada do oceano, menos perigo há de o ecossistema ser contaminado pela carga poluente ainda armazenada dentro de um compartimento do flutuante.

Contratado pela Petrobrás, a pedido da Marinha, para participar do resgate da chata, o navio Gulman Atlantis chegaria hoje ao litoral onde funcionava desde 1984 a base científica e militar brasileira na Antártida. A Marinha não informou se o cronograma foi mantido depois da destruição da Comandante Ferraz.

Como o Estado revelou na edição de sábado, o mau tempo provocou o naufrágio da chata quando transportava a carga de gasoil artic (óleo diesel anticongelante fabricado pela Petrobrás para emprego na base brasileira da Antártida) entre o navio Almirante Maximiano e o píer da estação. O flutuante foi a pique a cerca de 900 metros da costa.

A constatação de que o óleo não vazou trouxe alívio à Marinha, que rebocava a chata, e ao governo da presidente Dilma Rousseff. O Brasil é signatário do Protocolo de Madri (1998), tratado pelo qual os países que compartilham a atuação no continente antártico se comprometem a não poluí-lo.

O temor de que o governo brasileiro fosse responsabilizado pela possibilidade de causar um desastre ecológico em um santuário natural fez a Marinha manter o acidente sob sigilo. Em nenhum momento ela divulgou comunicados públicos informando a sociedade sobre o ocorrido. No sábado, quando a estação pegou fogo, foram três os comunicados oficiais.

Sino. A operação de resgate da chata prevê a utilização de um sino de mergulho trazido pelo Gulman Atlantis. Dentro da água, a temperatura a 40 metros de profundidade é negativa. Os mergulhadores que trabalhavam na base antes do incêndio chegaram a descer 20 metros, a uma temperatura de -2°C.

No caso de permanecer por 7 minutos a 40 metros de fundura, o mergulhador terá de subir lentamente por duas horas, para não sofrer uma embolia. Com o mar em uma temperatura muito baixa, essa ascensão é bastante problemática.

Com a utilização do sino, os mergulhadores não precisarão ir até a chata. As cordas e boias que reconduzirão o flutuante à superfície serão presas mecanicamente por equipamentos especiais manipulados no sino e no navio./ SÉRGIO TORRES