Título: Força aérea americana cancela compra de US$ 355 milhões em aviões da Embraer
Autor: Marin, Denise Chrispim ; Godoy, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/02/2012, Economia, p. B1

Numa guinada inesperada para a Embraer e para o mercado, a Força Aérea dos Estados Unidos (Usaf) cancelou ontem sua decisão de comprar 20 aviões A-29 Super Tucano, a serem destinados ao Afeganistão. O valor desse contrato, ainda não assinado, é de US$ 355 milhões.

Embora justificada por "problemas de documentação", a decisão foi motivada sobretudo pela pressão política da oposição republicana e de políticos do Estado de Kansas, onde está instalada a sede da Hawker Beechcraft, a rival americana da Embraer derrotada na escolha da aeronave de ataque leve e apoio aproximado à tropa terrestre.

"Apesar de buscarmos a perfeição, nós às vezes não atingimos nosso objetivo. E, quando isso ocorre, temos de adotar medidas de correção", disse o secretário da Usaf, Michael Donley, por um comunicado. "Dado que a compra ainda está em litígio, eu somente posso dizer que o principal executivo responsável pelas aquisições da Força Aérea, David Van Buren, não está satisfeito com a qualidade da documentação que definiu o vencedor."

Investigação. De acordo com a Usaf, o diretor da área de equipamentos, Donald Hoffmann, determinou a abertura de uma investigação sobre o processo de licitação. A porta-voz da Força Aérea, Jennifer Cassidy, disse ontem não saber quando o processo de compra será retomado. Tampouco detalhou as razões do cancelamento.

Em São Paulo, o presidente da Embraer Defesa e Segurança (EDS), Luiz Aguiar, informou em curta nota corporativa que "a Embraer aguardará mais esclarecimentos sobre o assunto para, junto com sua parceira Sierra Nevada Corporation, decidir os próximos passos".

Aguiar lamentou o cancelamento do contrato, destacando o fato de a Embraer ter participado do processo de seleção "disponibilizando, sem exceção e no prazo próprio, toda a documentação requerida".

Para o presidente da EDS, "a decisão a favor do Super Tucano foi uma escolha pelo melhor produto, com desempenho em ação já comprovado e capaz de atender com eficiência às demandas apresentadas pelo cliente, a Força Aérea dos Estados Unidos".

Em janeiro, a Hawker contestou na Corte Federal de Apelação a decisão da Força Aérea americana de desqualificá-la na licitação para a compra dos turboélices, um mês antes. Única concorrente, a Embraer foi declarada vitoriosa.

O questionamento judicial não preocupa a empresa brasileira. Segundo um alto executivo da Embraer nos EUA, a escolha da Usaf se mostrara consistente com as exigências da licitação, e os argumentos da Hawker eram frágeis. / COLABOROU GERSON MONTEIRO, ESPECIAL PARA O ESTADO