Título: Levantamento lista plantas e animais invasores no País
Autor: Salomon, Marta ; Dantas, Iuri
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2012, Vida, p. A12

Novo banco de dados, do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, cita 1,2 mil ocorrências

Jaca. Goiaba. Dendê. Plantas que muitos consideram típicas do Brasil. Mas que não só não são originais do País, como são consideradas espécies invasoras em algumas regiões, onde competem por espaço, luz e nutrientes com as espécies nativas, vencem e acabam se tornando uma ameaça. Elas fazem parte da lista de 348 plantas e animais incluídos no novo banco de dados sobre espécies invasoras do Brasil, organizado pelo Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental.

As espécies exóticas são aquelas que vivem fora do seu hábitat ou região de origem. Quando elas se multiplicam e se tornam um problema para o ecossistema, para as espécies nativas ou para os seres humanos, elas passam a ser consideradas "invasoras". É como se fossem pragas, como no caso do mosquito da dengue e do barbeiro - insetos transmissores de doenças.

A nova base de dados do Hórus lista 1,2 mil ocorrências de espécies invasoras no Brasil. O número é quatro vezes maior do que o de espécies (348), porque cada espécie pode ser considerada invasora ou não em diferentes pontos de ocorrência, dependendo das circunstâncias locais. É o caso da jaqueira (originária da Ásia), da goiabeira (da América Central) e do dendezeiro (da África), que podem ser árvores frutíferas inofensivas em determinados ambientes ou espécies invasoras, em outros.

"A jaqueira substitui a floresta nativa. Toma conta do ambiente", diz a especialista Sílvia Ziller, fundadora e diretora executiva do Instituto Hórus.

Equilíbrio. No reino animal, exemplos mais "famosos" de espécies invasoras no Brasil incluem o mexilhão-dourado da Ásia e o caramujo-gigante da África. Mas há também espécies nativas que se tornam invasoras dentro do próprio país. Caso dos saguis. Eles são macacos nativos das florestas mais ao norte da Mata Atlântica, na Região Nordeste, onde vivem em equilíbrio com as outras espécies. Introduzidos na parte sul do bioma, porém, se tornaram uma ameaça.

"Eles são predadores de ninhos; comem os ovos e os filhotes das aves", explica Ziller. "São predadores que não têm predadores." Segundo ela, os saguis teriam sido introduzidos no sul por traficantes de animais silvestres e caminhoneiros, que os traziam como bichos de estimação.

Algumas introduções são acidentais, outras são intencionais, e as duas às vezes se misturam. É o caso da tilápia, um peixe africano introduzido no Brasil pela piscicultura, mas que escapou das áreas de criação e invadiu vários rios.

No Cerrado, os principais problemas são a braquiária e o capim-gordura, duas plantas forrageiras da África introduzidas para formação de pastos, mas que se disseminaram pelo bioma, tomando o lugar dos capins nativos e aumentando o risco de incêndios, porque queimam com mais facilidade .

O novo banco de dados (disponível no site www.institutohorus.org.br), segundo Sílvia, tem informações mais completas e oferece ferramentas de busca mais eficientes. O projeto faz parte da I3N, uma das redes temáticas da InterAmerican Biodiversity Information Network (Iabin).