Título: BIS e FMI veem riscos para emergentes
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2012, Economia, p. B3

Instituições alertam para efeito do "tsunami monetário" sobre as moedas e dizem que excesso de liquidez pode causar bolhas

Instituições financeiras alertam que o "tsunami monetário" dos países ricos representa um risco real para os emergentes e advertem que a inundação de liquidez está dando a falsa sensação de que a crise está superada.

O Banco de Compensações Internacionais (BIS, conhecido por ser o banco central dos bancos centrais) admite que o impacto para as moedas dos países em desenvolvimento deve ser reconhecido e afirma que há risco de uma nova onda de alavancagem no sistema financeiro. Enquanto isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que a América Latina deve se preparar para um 2012 de forte e turbulenta entrada de capitais, colocando pressão sobre suas moedas.

A posição do BIS é de alerta às entidades que vêm conduzindo essas ações. Em um estudo realizado pela entidade que acabou sendo base para intervenções públicas do banco, não resta dúvida para os economistas de que os emergentes sairão perdendo.

"A pressão sobre a taxa de câmbio (de países emergentes) resultante de taxas de juros extraordinariamente e persistentemente baixas nas economias avançadas não deve ser subestimada", diz o BIS, que lembra que a taxa de juros real nos países ricos foi negativa em 2% em 2011 e 1% em 2010. "Muitas economias de mercados emergentes têm um interesse vital em taxas de câmbio estáveis, dado que dependem das exportações."

Desde janeiro de 2012, as moedas de México, Brasil, Colômbia e Chile têm estado entre as oito mais procuradas por investidores nos países emergentes. Com a nova injeção, a projeção é de mais problemas.

"Há o risco de encorajar uma nova rodada de tomada de riscos e de nova alavancagem no sistema financeiro", afirma o BIS, que chega a ironizar o fato de que o "trilhão se transformou na nova unidade de medida" das ações esperadas pelo mercado.

Para o BIS, o alerta é também dirigido aos BCs de países emergentes. A pressão sobre as moedas faz com que essas instituições percam o foco na luta contra a inflação e acabem destinando esforços para controlar a taxa de câmbio.

Na Ásia, esse temor de entrada de capitais acabou se traduzindo em uma ação para reduzir as taxas de juros e, assim, diminuir a diferença com as taxas nos países ricos. A esperança era de que isso frearia a entrada de capitais. Segundo o BIS, porém, as baixas taxas de juros alimentaram um forte crescimento do crédito doméstico e, em alguns casos, a explosão da inflação.

Na América Latina, 2012 seria mais um ano de pressão. Segundo a avaliação do FMI, o risco é de uma nova onda de fluxos de capital com o potencial de desestabilizar as economias da região.

Na avaliação da entidade, 2011 foi marcado por uma certa prudência no fluxo de capitais para a região, diante de investidores ainda temerosos do que ocorreria na Europa. Mas, com a aversão ao risco se dissipando e uma nova injeção trilionária de dólares, a tendência é de um fluxo importante.

No Uruguai, o FMI realizou uma reunião neste fim de semana justamente para debater se políticas existiam na região para fazer frente a essa realidade.

Tempo. Na Basileia, o BIS não esconde que teme que BCs de países ricos terão dificuldades para reverter os quase quatro anos de injeções de liquidez na economia. Mas a entidade não poupa críticas, alertando que a ação não resolveria nem mesmo os problemas dos países ricos. Em um documento, preparado em fevereiro, a entidade insiste em que simplesmente "imprimir dinheiro" não resolverá a crise e apela para que BCs deem sinais claros de que não repetirão a medida em 2012.

A avaliação é de que países que injetaram dinheiro em seus sistemas financeiros estão apenas "comprando tempo", na esperança de que esses recursos mantenham oxigênio nas economias até que as reformas em várias áreas sejam realizadas e o crescimento volte a ocorrer.

"Bancos centrais podem dar liquidez. Mas não podem resolver o problema de base da solvência", alertou. "Na melhor das hipóteses, podem comprar tempo. Mas com o risco desse tempo ser desperdiçado", declarou.

Para o BIS, a situação de dinheiro fácil ameaça atrasar qualquer reforma real do sistema e dos bancos, dando a falsa impressão de que os problemas teriam sido superados e encorajando investidores a voltar a usar o dinheiro de forma indiscriminada.

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