Título: Pouso suave deve afetar exportações brasileiras ao país
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2012, Economia, p. B4

O eventual sucesso das autoridades chinesas na manobra para levar a economia a um pouso suave ao mesmo tempo em que mudam o modelo de desenvolvimento do país deverá ter impacto negativo sobre as exportações de commodities do Brasil, principalmente o minério de ferro usado na fabricação de aço.

A intenção dos líderes do Partido Comunista é reduzir o peso dos investimentos e das vendas externas na composição do PIB e aumentar o do consumo, o que levará à expansão do setor de serviços.

O crescimento chinês das últimas décadas - e especialmente em anos recentes - foi caracterizado por vigorosos projetos de infraestrutura e construção, para os quais são necessárias doses cavalares de produtos como aço, cimento e cobre.

Com milhares de quilômetros de autoestradas, linhas de trem rápido em quase toda a costa leste e aeroportos em grande parte do país, a China não conseguirá repetir em sua nova etapa de crescimento os investimentos em infraestrutura realizados nas décadas anteriores.

"Fazer uma massagem não consome a mesma quantidade de aço que construir um aeroporto", exemplifica Dong Tao, economista-chefe para a China do Credit Suisse, que prevê um declínio na demanda chinesa por commodities.

A voraz demanda na última década transformou a China no maior destino das exportações brasileiras, acima dos Estados Unidos. No ano passado, o país asiático abocanhou quase metade das vendas externas nacionais de minério de ferro, o principal produto da pauta de exportações brasileira.

Além disso, foi o segundo maior comprador de petróleo, o mais importante produto depois do minério de ferro. E ficou em primeiro lugar nas vendas de soja, que aparece em terceiro lugar na pauta.

Mas a eventual desaceleração chinesa não deverá afetar os embarques de commodities da mesma maneira. O impacto será negativo para o minério de ferro, mas poderá ser positivo para a soja, na medida em que a renda e o consumo maiores estimulem a demanda por alimentos.