Título: China reduz meta de crescimento para 7,5%, depois de manter 8% por 7 anos
Autor: Trevisan, Claúdia
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2012, Economia, p. B4

Primeiro-ministro Wen Jiabao anunciou novo porcentual e disse que transformar o modelo de crescimento chinês é o desafio mais urgente

A China reduziu sua meta de crescimento de 2012 para 7,5%, abandonando a cifra mágica de 8% que prevaleceu nos últimos sete anos. O novo porcentual foi anunciado ontem pelo primeiro-ministro Wen Jiabao, que classificou a transformação do modelo de crescimento chinês como o mais urgente desafio diante do Partido Comunista e colocou o aumento do consumo no topo das prioridades do governo para os próximos 12 meses.

A receita baseada em investimentos e exportações das últimas três décadas levou a um desenvolvimento "desequilibrado, descoordenado e insustentável", que deve ser alterado com o aumento da participação da demanda doméstica na composição do Produto Interno Bruto (PIB), observou o primeiro-ministro em discurso de 1 hora e 50 minutos na abertura do encontro anual do Congresso Nacional do Povo, que reúne cerca de 3 mil delegados de todo o país.

A redução da meta de crescimento está alinhada com o Plano Quinquenal anunciado no ano passado para o período 2011-2015, que dá ênfase mais à qualidade do que à quantidade da expansão econômica - o documento fixa em 7% a alta média anual do PIB nesse período, ante 9,9% nas últimas três décadas.

Porém havia dúvidas se a liderança do Partido Comunista estaria disposta a aceitar na prática uma cifra menor e deixar para trás décadas de expansão de dois dígitos. "Os líderes de Pequim concluíram que o crescimento da China tem de desacelerar, na medida em que a economia mude seus motores de crescimento de exportações, setor imobiliário e infraestrutura para o consumo e urbanização", escreveu em análise sobre o discurso o economista-chefe do Credit Suisse para a China, Dong Tao.

A meta tem caráter simbólico, já que o crescimento real sempre fica acima dos índices fixados a cada ano pelo governo. Em 2011, a expansão foi de 9,2% e o consenso dos economistas aponta para um porcentual de 8,5% em 2012. Mas, ao cravar 7,5%, as autoridades de Pequim sinalizaram aos governos provinciais que não haverá pacote de estímulo semelhante ao de 2008 para contrabalançar o cenário internacional hostil, como muitos queriam.

Social. Para aumentar o consumo, Pequim dará ênfase à redução da desigualdade social, investirá na ampliação da rede de proteção social e implantará mecanismos para elevações regulares de salários e do salário mínimo, que já estão em alta desde 2010.

O rápido crescimento das últimas três décadas foi acompanhado da elevação da distância entre ricos e pobres, campo e cidade e as regiões leste e oeste, a ponto de a nominalmente socialista China ter um índice Gini de desigualdade superior ao do capitalista Estados Unidos.

Isso cria um sentimento de exclusão dos benefícios da expansão econômica em grande parte da população e é fonte de instabilidade e conflitos sociais.

O desafio para o Partido Comunista é manter um ritmo relativamente alto de expansão e, ao mesmo tempo, mudar o modelo de desenvolvimento e conter a alta de preços, outra grande fonte de instabilidade social. A meta de inflação para 2012 foi fixada em 4%, mesmo índice do ano passado, que ficou em 5,4%.

Wen afirmou que o governo manterá a política de controle do setor imobiliário, que limita o número de imóveis que cada família pode adquirir, para conter a especulação que levou os preços às alturas e criou uma bolha que começa a desinflar.

Com a crise na Europa e nos EUA - principais compradores de seus produtos -, a China espera um modesto aumento de 10% em seu comércio internacional, após alta de 35% no ano passado. Para compensar o enfraquecimento de seus mercados tradicionais, Pequim buscará espaço em países emergentes, ressaltou o premiê.