Título: Vamos manter o real menos valorizado
Autor: Veríssimo, Renata ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/03/2012, Economia, p. B5

Mantega diz que a guerra cambial vai ser mais intensa, mas o governo tem um "arsenal infinito" de medidas

A "guerra cambial" vai se intensificar, na avaliação do governo brasileiro, que diz contar com um "arsenal infinito" de medidas para segurar a queda do dólar em relação ao real e evitar que a indústria brasileira repita este ano o fraco desempenho de 2011.

Sem dar detalhes sobre quais são as medidas que compõem o "arsenal", o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o governo pode aumentar sua atuação, "em larga escala", no mercado à vista e nos contratos de câmbio, os chamados derivativos. Também não descartou a criação de novas medidas nessa área.

"Vamos manter o real menos valorizado, que é o que interessa para a economia brasileira", afirmou o ministro. "Esse é um dos campos de atuação mais importantes do governo. É justamente o que pode impedir que a indústria mais uma vez seja prejudicada", acrescentou.

Na semana passada, o governo adotou novas restrições à entrada de dólares no País, que atingiram empréstimos feitos por empresas brasileiras no exterior com vencimento de até três anos e parte do crédito à exportação.

Segundo o ministro, haverá uma "intensificação da guerra cambial" por parte de economias como a dos Estados Unidos, Japão e países da Europa, que estão praticando políticas de redução de juros e injeção de dinheiro no mercado.

Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) ofereceu mais € 530 bilhões aos seus bancos. De dezembro para cá, o valor injetado no mercado financeiro chega a € 1 trilhão.

Esse excesso de crédito, que a presidente Dilma Rousseff descreveu na semana passada como um "tsunami monetário", desvaloriza as moedas e provoca uma desvantagem comercial para países como o Brasil.

Estão na mira do governo, segundo o ministro, operações de arbitragem com taxas de juros, nas quais o investidor lucra com a diferença entre as taxas fora e dentro do País. Para Mantega, esse ingresso de dólares pode criar bolhas em países desprevenidos, o que não é o caso do Brasil. / E.C. e C.F.