Título: Haddad nega ligação de Crivella e sua campanha
Autor: Cardoso, Daiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2012, Nacional, p. A16

Para o pré-candidato do PT, questões do governo federal não interferem na eleição paulistana e partidos da base têm direito de lançar candidaturas

O pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, disse ontem que não vê relação entre a troca de ministros no governo Dilma Rousseff - para a acomodação de partidos da base aliada - com a disputa eleitoral na capital paulista. "Não tenho visto reflexo federal no plano municipal", afirmou o petista, durante visita ao distrito de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital.

Segundo ele, apesar de o PT manter a estratégia de aproximação com as siglas da base de apoio da presidente Dilma Rousseff, vai haver respeito às candidaturas em São Paulo dos aliados no plano federal. "Em nenhum momento, considerações de ordem federal estão sendo colocadas como condição, até porque seria impossível para nós equacionarmos", reafirmou.

A presidente Dilma anunciou esta semana o nome do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo da Igreja Universal, como o novo ministro da Pesca. Com a indicação, o Planalto estaria tentando blindar Haddad de ataques religiosos, além de viabilizar uma aliança entre PT e PRB na sucessão municipal com a eventual desistência da pré-candidatura de Celso Russomanno.

O pré-candidato do PT negou que a nomeação de Crivella tenha ligação com a sua pré-candidatura, sobretudo no episódio da divulgação dos kit anti-homofobia do Ministério da Educação. "Primeiro, que o Crivella não é da cidade, ele é uma grande liderança do seu partido e um senador respeitado", respondeu.

Disse ainda que não acredita na possibilidade de o novo ministro interferir junto à bancada evangélica e, assim, poupá-lo de críticas sobre o kit. Ele afirmou que vem mantendo uma boa relação com os evangélicos e que, em nenhum momento, a bancada sustentou essas críticas pessoalmente. "As críticas aparecem como uma futrica no jornal, nunca foram uma conversa frente a frente", disse. Para o ex-ministro da Educação, há um exagero na publicidade do assunto e isso vem produzindo efeitos ruins para a sociedade.

Jogada. O petista argumentou que vê nas candidaturas do PMDB e do PRB uma estratégia local dos partidos, e não uma forma de pressão por espaço no governo Dilma. "A provável candidatura do PMDB em São Paulo não tem nada a ver com o que se passa em Brasília, é uma estratégia local do vice-presidente Michel Temer de aumentar a presença do PMDB na cidade e no Estado. É uma estratégia que independe das boas ou não tão boas relações momentâneas de um determinado período."

Ele revelou ainda que falou recentemente com o pré-candidato do PMDB, deputado federal Gabriel Chalita, e que marcaram uma conversa sobre o cenário em São Paulo. "Você tem o primeiro turno, provavelmente um segundo turno, e um governo depois. Então, nesse jogo de xadrez, você tem de antecipar movimentos", disse.

O petista disse que não descarta a possibilidade de composição com o pré-candidato do PMDB, mas que "não é elegante incidir sobre uma candidatura que tem uma base de legitimidade". Na opinião dele, o PRB também tem a sua estratégia local e que, possivelmente, manterá a pré-candidatura de Russomanno. "O PRB também tem essa estratégia no município e quero crer que vão levar essa estratégia até o final."

Em relação à possibilidade de o PR lançar a candidatura do deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, Haddad acredita que essa possibilidade é improvável. "Não estou vendo isso para valer", comentou. Ele disse que não acredita nessa pré-candidatura, pois o partido não tem dado sinalizações concretas de que pretenda apresentar um candidato.