Título: Dois homens registram bebê fertilizado in vitro
Autor: Lacerda, Angela
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2012, Vida, p. A26

Casal de PE é o primeiro a usufruir do direito de dividir a paternidade de uma criança gerada nessas condições, sem necessidade de ação judicial

Pela primeira vez no Brasil, uma criança gerada por fertilização in vitro foi registrada como filha de dois homens. Um deles é o pai biológico, o óvulo foi de uma doadora anônima e a gestação ocorreu no útero de uma prima - que assinou uma escritura pública abdicando de qualquer direito sobre a criança.

Os empresários Maílton Alves Albuquerque, de 35 anos, e Wilson Alves Albuquerque, de 40, registraram como filha Maria Tereza Alves Albuquerque, de 1 mês, na terça-feira passada, no Recife. O juiz da Primeira Vara de Família, Clicério Bezerra e Silva, autorizou o registro com base nos princípios da Constituição Federal: igualdade, dignidade da pessoa humana, não discriminação por raça, sexo ou cor e livre planejamento familiar. É o mesmo juiz que em agosto passado transformou a união estável entre os dois em casamento civil.

Juntos há 15 anos, Maílton e Wilson estão empolgados com a concretização do sonho de formar uma família. Os pré-embriões fecundados por Wilson - ambos cederam espermatozoides para serem fecundados - foram congelados e deverão ser gerados no próximo ano. "Queremos dar um irmão para Maria Tereza", afirmou Maílton.

Ele diz querer que "o nosso caso seja um marco, queremos que o Brasil saiba que há uma nova família em formação no País".

Inspiração. Maílton esteve no Canadá em 2010 e conheceu um casal de homens com três filhos. Todos eles gerados pelo método da fertilização in vitro. Impressionado, ele perguntou se as crianças não enfrentavam discriminação na escola e ouviu a resposta de que no Canadá a família pode ter pai e mãe, pai e pai e mãe e mãe.

Com a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 6 de janeiro do ano passado, que permite a reprodução assistida no País "por todas as pessoas capazes", Maílton e Wilson decidiram seguir o exemplo dos amigos canadenses.

"Maria Tereza vai enfrentar uma situação diferente. O Brasil não é o Canadá, mas é um grande avanço e o que importa é que ela vai crescer cheia de amor", destacou o pai biológico. "Ela vai abrir caminhos e queremos que nossa filha seja respeitada e respeite as diferenças."

Eles contam com o apoio das famílias e se preparam agora para batizar Maria Tereza na Igreja Episcopal, que frequentam.