Título: Resultado incerto para o comércio exterior em 2012
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2012, Economia, p. B2

Nos dois primeiros meses do ano, a balança comercial apresentou superávit de US$ 423 milhões, com uma queda de 73,4% em relação ao resultado do mesmo período de 2011. É uma advertência ao Banco Central, que, no seu último relatório sobre as contas externas, previa para o atual exercício um superávit de US$ 23 bilhões, com crescimento das exportações de 4%, e de 7,9% das importações.

Com relação a essa estimativa, nos dois primeiros meses do ano houve aumento de 7% das exportações e de 11,2% das importações, o que leva a concluir que é o aumento das importações que merece toda a atenção.

Registram-se alguns progressos na qualidade das exportações: as de manufaturados acusaram crescimento de 8,6%; as de semimanufaturados, de 13,9%; enquanto as de itens básicos cresceram apenas 2,6%. A exportação de minério de ferro, cujo volume havia caído em janeiro, se recuperou em volume, com um recuo de preços de 4% - mas para a maioria das commodities, o preço continua superior ao de fevereiro de 2011. O dado da exportação de manufaturados está inflado pela venda, em fevereiro, de uma plataforma de perfuração e exploração de petróleo no valor de US$ 405 milhões, que não é comum em nossa pauta. A boa notícia é que as exportações para os EUA voltam a subir, tornando este país o maior cliente do Brasil, com US$ 4,6 bilhões nos dois primeiros meses, enquanto as exportações para a China somaram US$ 3,9 bilhões, com redução de 0,3%. E nossas exportações para a União Europeia cresceram apenas 1,3%.

Nas importações dos últimos dois meses transparecem alguns problemas. As matérias-primas de bens intermediários, que representam 44,2% do total, apresentam um crescimento de apenas 6%, refletindo a queda da atividade da indústria, enquanto as importações de bens de consumo duráveis aumentaram 9%, e as de automóveis, reduzidas pelas restrições impostas pelo governo, ainda assim cresceram 4,4%. Um ponto positivo foi o aumento de 11,2% na compra de bens de capital, ofuscado, porém, por 22% de aumento nos bens de consumo não duráveis, entre os quais diversos que o Brasil fabricava alguns anos atrás.

Parece muito audacioso tentar fazer projeções para o ano a partir de dados de dois meses, especialmente num momento em que uma onda protecionista prospera num mundo em crise e em que há um problema cambial que o Brasil não resolveu até agora. Mas, pelo menos, parece que nos aproveitamos da recuperação da economia norte-americana, que demorará a se verificar na União Europeia.