Título: Merkel vai justificar a Dilma ação do BCE
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2012, Economia, p. B8

Presidente criticou injeção de recursos do banco, que chamou de "tsunami monetário"

As críticas feitas pela presidente Dilma Rousseff à decisão do Banco Central Europeu (BCE) de oferecer ao sistema bancário do bloco € 530 bilhões em empréstimos subsidiados com juros de 1% repercutiram ontem na Europa.

Em pronunciamento à imprensa ao término da cúpula da União Europeia, em Bruxelas, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que vai explicar à chefe de Estado brasileira que a medida não se repetirá e que os valores serão absolvidos rapidamente pelo sistema financeiro.

Na quinta-feira, Dilma criticou a decisão do BCE de injetar os recursos imprimindo moeda. A medida já havia sido adotada em dezembro, quando € 489 bilhões foram lançados em empréstimos captados por 523 instituições. Agora, 800 bancos estão envolvidos na nova operação, que eleva para mais de € 1 trilhão o montante impresso pela autoridade monetária europeia em três meses. Segundo cálculos do governo brasileiro, os países mais desenvolvidos teriam despejado US$ 4,7 trilhões no sistema financeiro desde 2008.

Para Dilma, trata-se de um "tsunami monetário", "uma guerra fiscal baseada em uma política monetária expansionista, que cria condições desiguais" e prejudica a competitividade dos países emergentes. "Estamos preocupados, sim, com esse tsunami monetário dos países desenvolvidos, que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para sair da crise", disparou, usando termos como "inconsequente" para definir a atitude do BCE.

Razão. Ontem, em lugar de rebater as críticas, Merkel pareceu dar razão à brasileira. Em dezembro, ela já havia criticado nos bastidores a decisão do presidente do BCE, Mario Draghi, de recapitalizar o sistema financeiro imprimindo moeda. "Isso (o excesso de liquidez) é exatamente o que queremos evitar", disse Merkel. "Por um lado, posso entender os questionamentos dela (da presidente Dilma Rousseff). Por isso direi a ela que planejamos perseguir reformas, que certamente não implementaremos medidas similares novamente e que a liquidez será absorvida pelo mercado", disse a chanceler.

As duas líderes terão a oportunidade de debater o assunto nos próximos dias. Dilma embarca hoje à noite para a Hannover, onde tem previsão de chegada às 16h30 de amanhã. De acordo com o Itamaraty, ela não tem agenda oficial no domingo e permanecerá no Hotel Luisienhoff, no centro da cidade. Seu primeiro compromisso será às 17h50 de segunda-feira, quando visitará a Feira de Hannover, especializada em tecnologia. O primeiro encontro político acontece na sequência, às 20h, quando ela deverá visitar o governador do Estado da Baixa Saxônia, em um jantar com a presença da chanceler alemã.

Depois do encontro de delegações, Dilma e a chefe de governo alemã terão reunião privada, às 21h, na qual a presidente deve expor sua visão sobre a crise da Europa e as recentes medidas do BCE. A agenda da presidente se encerra na terça-feira, com uma declaração à imprensa e com um almoço com empresários.