Título: BCE recebe mais de US$ 1 trilhão em depósitos em 1 só dia
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/03/2012, Economia, p. B9

Recursos entraram no caixa do banco logo após o próprio banco injetar no mercado bilhões de euros para estimular economia

Bancos comerciais depositaram no Banco Central Europeu (BCE) mais de US$ 1 trilhão, criando incerteza na União Europeia em relação ao destino do dinheiro que o BCE injetou esta semana nas instituições financeiras. O objetivo era reativar os empréstimos e incentivar a economia, mas os bancos que tomaram o dinheiro optaram por deixá-lo no BCE, num sinal de que ainda hesitam em emprestar e preferem criar colchões de proteção. Os depósitos registrados entre quinta-feira e sexta-feira bateram todos os recordes.

Nesta semana, pela segunda vez em dois meses, o BCE injetou 529 bilhões nos bancos - 800 entidades recorreram aos fundos, com uma taxa de juros de apenas 1%. No dia 21 de dezembro, o BCE já havia jogado no mercado outros 489 bilhões

Em dois meses, a UE injetou um volume de liquidez equivalente a 10% de seu Produto Interno Bruto. A ação foi duramente criticada pelo Brasil e outros países emergentes que temem que a inundação de recursos no mercado não servirá para retomar os empréstimos e investimentos, mas acabarão sendo desviados pelos próprios bancos em busca de maiores lucros aproveitando as taxas de juros mais altas ou apostas no real e outras moedas.

Ontem, o BCE admitiu que os bancos depositaram em seus fundos 776,9 bilhões (US$ 1,03 trilhão). O depósito não é dos investimentos mais lucrativos, já que rende apenas 0,25%. Mas a opção pelo é um sinal de que as instituições querem segurança.

Porto seguro. Os mais céticos em relação à iniciativa do BCE alertam que esse dinheiro encontrará seu caminho em direção aos mercados emergentes, buscando aplicações com alta rentabilidade, sem riscos. O Brasil aparece como uma opção ideal. Com os juros atrativos brasileiros, os bancos pegam o dinheiro do BCE a taxas baixas e investem no Brasil. O resultado, pelo menos para o real, é uma pressão por sua valorização. Para Supachai Panitchpakdi, secretário-geral da Conferência da ONU para Comércio e Desenvolvimento, o problema não é apenas a entrada desses recursos, mas o impacto que ele terá quando houver uma debandada generalizada.

Apesar das críticas, o presidente do BCE, Mario Draghi, se disse "razoavelmente satisfeito" com os resultados da injeção de recursos. Em uma carta a parlamentares europeus, Draghi insistiu que o aumento dos depósitos não é "um indicador significativo do impacto da operação". Ele garante que os bancos que estão usando os empréstimos não são os mesmos que estão depositando o dinheiro na instituição.

Ontem, Draghi ainda alertou os líderes na cúpula da UE de que não há margem para complacência, que a situação ainda é frágil e que os governos não devem esperar novas infusões de recursos pelo BCE. O italiano, porém, admitiu em um jantar com os líderes que a injeção de 1 trilhão em dois meses deu a governos espaço para respirar. Mas pediu que não desperdicem essa oportunidade para fazer as reformas.

O Banco Central Europeu estima que os governos terão três anos para colocar as contas em ordem, já que essa injeção de liquidez vence em 36 meses.

Nem todos estão satisfeitos com a iniciativa na Europa. O chefe do BC alemão, Jens Weidmann, decidiu escrever uma carta a Draghi na semana passada alertando que a injeção de recursos não resolveria a crise e ainda aumentaria desequilíbrios e inflação na zona do euro.

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