Título: Senado rejeita petista por 36 votos a 31
Autor: Samarco, Christiane ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2012, Nacional, p. A4

A rejeição ao nome de Bernardo Figueiredo foi a primeira derrota da presidente Dilma Rousseff neste ano. Em votação secreta, os senadores negaram, por 36 votos contra 31, o direito de Figueiredo, uma indicação pessoal de Dilma, de permanecer à frente da ANTT nos próximos quatro anos.

Durante a discussão em plenário, coube inicialmente ao senador Roberto Requião (PMDB) fazer duras críticas ao diretor-geral. Da tribuna, Requião acusou-o de ter feito carreira na iniciativa privada e, ao assumir a ANTT, passar a defender os interesses das empresas do setor. Ele reforçou suas queixas se valendo de recente auditoria do Tribunal de Contas da União, que apontou irregularidades em concessões ferroviárias e baixa fiscalização, além de ter criticado o aumento do trem-bala, o principal projeto da agência para os próximos anos. O argumento técnico foi um pretexto para expressar o descontentamento da base.

Nos momentos de máxima insatisfação com o governo, o Senado costuma rejeitar indicações do presidente da República para as agências reguladoras. Em 2003, o senador José Sarney (PMDB) comandou o processo que rejeitou a indicação do ex-deputado Luiz Salomão (PDT) para a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Sarney nunca perdoou os ataques de Salomão durante a Constituinte (1987/88).

Em 2009 o Senado rejeitou o nome do engenheiro Bruno Pagnoccheschi para uma diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA). A justificativa foi uma revolta do PMDB contra a ex-ministra Marina Silva, a quem Bruno era ligado. O PMDB considerava que Marina trabalhou para tirar Sarney da presidência do Senado.

Também em 2009 o Senado rejeitou a indicação de Paulo Rodrigues Vieira para outra diretoria da ANA, alegando que ele não entendia do assunto, por ser advogado. Em abril de 2010, num acordo com o então presidente Lula, Sarney levou o nome de Vieira novamente a votação, e conseguiu aprová-lo. Houve protestos, mas Sarney rejeitou as questões de ordem feitas pelos partidos de oposição. Vieira ainda é diretor da ANA. / RICARDO BRITTO e J.D.