Título: BC reduz taxa de juros em 0,75 ponto
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2012, Economia, p. B1

Selic cai a 9,75%, acumula queda de 2,75 ponto desde agosto de 2011 e fica em um dígito pela primeira vez desde o início de junho de 2010

Um dia após a confirmação de que a economia desacelerou no ano passado e da promessa do governo de adotar uma "ação mais forte" para retomar o crescimento, o Banco Central cortou o juro em 0,75 ponto porcentual, para 9,75% ao ano. Assim, a Selic volta à casa de um dígito pela primeira vez desde o início de junho de 2010.

A medida ajuda no esforço de tentar reduzir a entrada de dólares no País, mas pode aumentar a urgência do debate sobre mudanças na regra da rentabilidade da poupança.

A decisão não foi unânime: cinco diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC votaram pela redução de 0,75 ponto e dois optaram por uma queda de 0,50 ponto. Comunicado distribuído após a decisão diz que o corte dá "seguimento ao processo de ajuste das condições monetárias". Analistas avaliam que a explicação abre espaço para outro corte de 0,75 ponto em abril.

O movimento de alívio nos juros começou em agosto. Até ontem, todos os cortes desse ciclo haviam sido de 0,50 ponto. Mas, com o novo ritmo, o BC realizou a maior redução desde junho de 2009, quando o movimento havia sido de 1 ponto. Desde agosto, a Selic caiu 2,75 pontos.

A maioria dos bancos apostava em corte de 0,50 ponto. Nos últimos dias, porém, dados domésticos frustrantes e a preocupação do governo com a entrada de dólares fizeram com que o mercado de juros futuros começasse a trabalhar com a hipótese de redução maior.

Efeito PIB. Os argumentos para reforçar a dose do corte vieram à tona nas últimas semanas. O fato mais impactante veio na terça-feira: a economia cresceu 2,7% em 2011, pior que o previsto pelo governo. Outros dados também ficaram abaixo do esperado, como a produção industrial e a venda de veículos. Por isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu reagir.

A necessidade dessa ação ganhou tom de urgência, na visão do governo, depois que muitos países ricos elevaram a oferta de dinheiro. Com juro próximo de zero, Estados Unidos, Europa e Japão já injetaram US$ 8,8 trilhões para tentar salvar bancos e ativar a produção. Parte desses recursos migra para países como o Brasil atrás de aplicações que rendem juros mais altos, fenômeno chamado de "tsunami" pela presidente Dilma Rousseff.

Esses fatos compuseram o cenário para o aumento da dose do remédio. Na direção do BC, um dos argumentos preferidos é o fato de que a economia cresce a um ritmo abaixo de seu potencial desde o 3.º trimestre de 2011.

Ou seja, entendem que é possível avançar mais sem reajustar preços. Além disso, o Copom já havia avisado em janeiro que era "elevada a probabilidade" de juro de um dígito.

Mas há um preço. Uma das consequências é a eventual necessidade de mudar regras da poupança, já que títulos do governo pagam cada vez menos e pode haver migração em massa para as cadernetas.

No outro período em que o Brasil teve taxa de um dígito - junho de 2009 a junho de 2010 -, a Selic chegou ao mínimo histórico de 8,75%, mas o governo desistiu de mexer na poupança diante da reação negativa à proposta.

Outro foco é a inflação, já que há incentivo ao consumo. Antes mesmo da decisão, as previsões do mercado para a inflação em 2013 subiram nas últimas três semanas.

"O fluxo de dólares deve ter preocupado e, por outro lado, a inflação corrente tem sido menor que o esperado. Isso deve ter dado conforto ao BC", diz o economista sênior do HSBC, Constantin Jancso.

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