Título: Produção industrial cai 2,1% em janeiro
Autor: Amorim, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2012, Economia, p. B7

Depois de ter freado o PIB em 2011, recuo em relação ao mês anterior foi o maior desde dezembro de 2008, no auge da crise internacional

A indústria nacional começou o ano com o pé esquerdo. A produção caiu 2,1% em janeiro, em relação ao mês anterior. Foi o maior recuo desde dezembro de 2008, auge da crise internacional. A produção de bens de capital despencou 16%, segundo a Pesquisa Industrial Mensal, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Depois de ter freado o crescimento do Produto Interno Bruto do País em 2011, o resultado indica que a indústria deve voltar a travar o PIB no primeiro trimestre deste ano. O recuo de 30,7% na produção de veículos automotores foi o principal responsável pelo tombo na indústria em janeiro. A fabricação de caminhões, que vinha impulsionando o setor de bens de capital, foi praticamente paralisada.

"Houve paralisação quase completa das montadoras de caminhão. A justificativa foi se adaptarem a novos parâmetros de motorização, menos poluentes", disse André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, referindo-se à obrigatoriedade legal de uso de motores euro-5, movidos a diesel com menor parcela de enxofre.

O pesquisador lembrou que dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontaram queda de 75,8% na produção de caminhões em janeiro, em relação ao mesmo mês de 2011. A fabricação de automóveis também caiu, com a paralisação de algumas montadoras ou a diminuição do ritmo de produção, por causa do nível de estoque acima do ideal. O movimento afetou ainda a fabricação de peças, motores e chassis.

Outro vilão da indústria em janeiro foi o clima. As fortes chuvas que castigaram Minas Gerais prejudicaram a extração de minério de ferro na região. O infortúnio puxou uma redução de 8,4% na produção das indústrias extrativas, a segunda maior contribuição negativa para a taxa nacional de janeiro ante dezembro. Na comparação com janeiro de 2011, o recuo foi de 5,7%.

A Vale teve de suspender produção por causa das chuvas, que afetaram ainda a fabricação de bebidas (queda de 7,7% ante dezembro), alimentos (0,8%) e materiais de construção (0,7%).

"As chuvas atrapalharam muita coisa. As pessoas consumiram menos bebidas no verão, porque fez até um friozinho. Na construção, as obras pararam, então seguraram a demanda", contou Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria Integrada. "E como a gente teve chuva muito concentrada em Minas, Rio e Espírito Santo, Estados que têm importantes vias de acesso de insumos e ficaram com muitas estradas debaixo d"água, pode ter havido problemas para outras produções."

Apesar do tombo na produção nacional, a avaliação do IBGE é de que a indústria segue com comportamento moderado. Os principais motivos que levaram à redução foram pontuais e não devem persistir.

Entre os 27 ramos industriais pesquisados pelo IBGE, um permaneceu estável em janeiro, enquanto 14 tiveram redução, e outros 12 apontaram alta ante dezembro. Embora a queda não tenha sido generalizada, o tombo de 2,1% na indústria já será suficiente para atrapalhar o PIB brasileiro neste primeiro trimestre.

"A produção industrial é uma espécie de indicador antecedente do que vai acontecer com o PIB industrial. Se você já começa janeiro com número ruim, dificilmente terá um número positivo no terceiro trimestre", alerta o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.

O economista prevê que a recuperação da indústria deve se concentrar no segundo semestre, mas o PIB industrial em 2012 não passará de 2%.

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