Título: Desigualdade cai pelo 11º ano consecutivo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/03/2012, Economia, p. B12

Queda de 7,9% no último ano, no entanto, não impede que o País ainda esteja entre os 12 mais desiguais, segundo pesquisa da FGV

MARIANA DURÃO / RIO - O Estado de S.Paulo

A desigualdade no Brasil caiu pelo 11.º ano seguido e atingiu o menor nível da série histórica iniciada em 1960. De acordo com a pesquisa "De volta ao País do Futuro", do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini - coeficiente de 0 a 1, sendo menos desigual o país mais próximo de zero - caiu 2,1% nos 12 meses encerrados em janeiro de 2012, chegando a 0,5190.

A projeção da FGV é que a desigualdade continue a recuar no País, levando o índice a 0,51407 em 2014. "A má notícia é que ainda estamos entre os 12 países mais desiguais. Mas a queda de 2001 para cá é espetacular e deve continuar", diz Marcelo Neri, coordenador da pesquisa.

A pobreza caiu 7,9% no País entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano. É um ritmo significativo, se considerada a queda de 11,7% entre 2010 e 2011, período em que a economia brasileira teve melhor desempenho.

Segundo Neri, a redução da desigualdade foi crucial para este resultado. Ele lembra que, na última década, a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%.

Apesar disso, o economista é taxativo ao afirmar que o governo não conseguirá erradicar a pobreza até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff: "A pobreza não termina, apesar da meta nobre".

Crise europeia. A pesquisa da FGV mostra também que a crise europeia não pesou tanto no bolso do brasileiro. A renda familiar per capita média subiu 2,7% no ano encerrado em janeiro. É o mesmo porcentual de 2002 a 2008, período tido por muitos como a era de ouro mundial. Em 2009 a renda ficou estagnada, por causa da crise financeira.

O crescimento será maior na classe A/B. A FGV estima que nos próximos dois anos haverá uma inversão, com a classe A/B crescendo a um ritmo mais acelerado que a classe C.

Segundo a pesquisa, a população no topo da pirâmide será 29% maior até 2014, enquanto a da classe C crescerá 11,9%. "Agora falaremos da nova classe A/B, como falamos da nova classe média", disse Neri, destacando que hoje a classe C tem um poder de compra maior que os mais ricos.

A projeção do CPS/FGV é que 60,1% da população brasileira estará na classe C em 2014, ante 55% em 2011. De 2003 a 2011, mais 40 milhões de pessoas chegaram à nova classe média. A estimativa é que serão mais 12 milhões em dois anos, somando cerca de 118 milhões de pessoas.

A metodologia da FGV, que leva em conta a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, classifica como classe C aqueles com renda familiar de R$ 1.734 a R$ 7.475. A classe B iria da faixa de renda de R$ 7.475 a R$ 9.745 e, acima disso, fica a classe A. Os dados foram atualizados a preços de julho de 2011.

Neri estima que a classe A/B terá mais 7 milhões de pessoas até 2014, chegando a 29,1 milhões. Em 2003, apenas 13,3 milhões de brasileiros estavam no topo da pirâmide de classes, número que subiu a 22,5 milhões em 2011.

Já a população das classes D/E - com renda até R$ 1.734 - seguirá diminuindo, em consequência da queda da desigualdade e da ascensão para outros segmentos econômicos.

A FGV calcula que ela sairá dos atuais 63,6 milhões de brasileiros para 48,9 milhões em 2014. No ano de 2003, a base da pirâmide social brasileira tinha 96,2 milhões de pessoas.

"A crise não afetou esse movimento que teve Lula como pai e FHC como avô, pela estabilização. A educação foi o fator mais importante (para essa migração)", avalia Neri.

Ele elenca ainda o aumento do emprego formal, a redução da natalidade entre os mais pobres e programas sociais como o Bolsa Família como fatores fundamentais para gerar e sustentar essa mudança social no País.

Para o pesquisador, o governo Lula teve sorte por ter enfrentado períodos de crise mundial quando a economia brasileira estava superaquecida. As crises, avalia, frearam a economia e a inflação antes mesmo do Banco Central agir.

Felicidade. O País liderou pela quarta vez o ranking do Índice de Felicidade Futura (IFF), feito pelo Centro de Políticas Sociais da FGV, com base em dados do Gallup World Poll em 158 países. De 0 a 10, o brasileiro deu nota 8,6 para o grau de felicidade que espera atingir em 2015. "O Brasil é o país mais positivo do mundo, o que está na cultura do brasileiro. Somos mais cigarra que formiga", disse Neri.

Os Estados Unidos ocuparam a 14.ª posição, com nota 8. Já os europeus, em crise, ficaram mais atrás: a Irlanda veio em 16.º; Reino Unido, em 26.º; Itália, em 56.º; e a forte Alemanha, em 62º. Os endividados Grécia e Portugal estão no fim da lista, em 145.º e 146.º. Para Neri, a posição de lanterna pode ser justificada tanto pela crise como por fatores culturais desses povos.