Título: Para congressistas, mudanças na poupança não é urgente
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2012, Economia, p. B3

Mesmo com a aceleração do ritmo da queda da taxa básica de juros, lideranças governistas no Congresso rejeitam fazer alterações na legislação sobre a poupança até as eleições municipais de outubro. Na Câmara e no Senado, o sentimento é de que o tema só deve ser tratado a partir de novembro. Há quem garanta até que o governo Dilma Rousseff não tratará do tema antes de 2014, apesar das especulações.

A necessidade de alterações na poupança está em debate porque a existência de uma remuneração fixa para a aplicação, hoje de 6% mais a Taxa Referencial, cria um "piso" para a redução da Selic, definida pelo Comitê de Política Monetária do BC.

Entre os aliados do governo no Congresso, porém, a análise é que o problema não é urgente. Em 2012, na avaliação deles, mais do que a poupança será a inflação a culpada por segurar a queda da Selic. Apesar de a meta ser de 4,5%, o resultado pode ficar mais próximo do teto (6,5%). Um deputado da cúpula do PT avalia que diante do cenário econômico é possível até concluir o governo Dilma sem tocar nesse assunto delicado.

Mesmo com os argumentos econômicos, os aliados veem na política o principal complicador para alterar a poupança. A proximidade das eleições de outubro inviabiliza o debate. O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), reconhece a dificuldade. "Acho difícil votar uma proposta para mexer na poupança este ano."

Entre os que reconhecem a necessidade de encarar o tema existem algumas alternativas no horizonte. O senador Eduardo Braga (PMDB-AM), por exemplo, destaca ser necessário mexer antes nas possibilidades de aplicação dos recursos que estão na poupança do que nas regras de remuneração. Outro parlamentar governista avalia que a mudança deverá ser feita no fim deste ano. Para ele, o governo precisa criar instrumentos para evitar uma migração em massa para a poupança e uma trava para a queda da Selic. Na oposição a resistência já está montada. O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), diz que qualquer mudança seria impopular.