Título: Bancos preveem Selic mais baixa da história
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2012, Economia, p. B3

Enquanto aguardam explicações do BC para o corte da Selic, economistas revisam cenário e alguns apostam em inflação mais alta do que em 2011

Reuniões e muitas contas no dia seguinte ao corte de juro mais agressivo anunciado pelo Banco Central. Na expectativa das explicações na ata que será divulgada na quinta-feira, economistas refazem cenários e as duas primeiras conclusões apontam para juro mais baixo no fim de 2012 e preços mais altos nos próximos meses. Alguns já apostam em Selic no mínimo histórico e inflação de 2013 mais alta que a de 2012.

Logo pela manhã, algumas instituições revisaram o cenário e anunciaram previsão de que os cortes do Banco Central devem levar o juro ao menor patamar da história em breve. Santander e BES Investimento, por exemplo, cortaram a estimativa para o juro no fim do ano de 9,5% para 8,5%. Confirmado, esse será o menor patamar já registrado para a Selic, abaixo do atual recorde de 8,75%, que vigorou entre julho de 2009 e abril de 2010.

Entre analistas, a inflação dos últimos 12 meses - que segue em desaceleração - é apontada como um dos fatores para respaldar a continuidade dos cortes. Anteontem, o Copom decidiu reduzir a Selic em 0,75 ponto, o que jogou a taxa básica para 9,75%. "Entendemos que é possível que o juro continue a ser reduzido no período em que a inflação também desacelerar, o que deve acontecer até maio", diz o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.

Em algumas instituições, há expectativa de que o juro caia 0,75 ponto em abril e diminua 0,5 ponto em maio. Na Rosenberg & Associados, a aposta para o juro - que estava em 9% - ganhou "viés de baixa". "Vamos esperar a ata", diz o economista Rafael Bistafa, ao comentar que, diante da decisão do BC e sem novos esclarecimentos, o juro "não tem piso".

Para 2013, as análises ainda são prematuras. Mas há quem prevê juro ainda mais baixo. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, acredita que a Selic poderá cair para 8% no fim do próximo ano. "Esse cenário leva em conta uma mudança nas regras da poupança, o que liberaria o Banco Central para continuar os cortes."

Inflação. Outro reflexo do BC mais agressivo virá sobre os preços. Flavio Serrano, economista sênior do BES Investimento, aumentou a previsão para a inflação em 2013 de 5,3% para 5,8%. Agora, prevê IPCA mais alto no próximo ano que em 2012, período em que o índice deve avançar 5,3%. "Boa parte da inflação deste ano já está dada. O impacto da decisão do Copom acontece mais no fim do ano e especialmente em 2013."

Para a Tendências Consultoria, o quadro é ainda mais preocupante e a expectativa para o IPCA em 2013 é de 6%. "Essa expectativa é anterior à reunião de ontem. Agora, a inflação tende a ser até um pouco acima disso, perigosamente perto do teto da meta", diz Campos Neto.

O regime de metas de inflação prevê inflação de 4,5%, com máximo em 6,5%. "Uma decisão como a de ontem passa a impressão de que o objetivo da equipe econômica é sustentar a inflação abaixo do teto, e não no centro da meta", diz o economista da Tendências.

Para evitar um estouro da meta, Campos Neto diz que o BC deveria elevar o juro a partir do início de 2013. "Caso não haja essa reversão, o teto da meta ficaria muito ameaçado novamente no ano que vem", diz, ao lembrar que, em 2011, o IPCA fechou o ano exatamente nos 6,5%.