Título: Tesouro ameaça comprar mais dólares e se aliar ao BC contra valorização do real
Autor: Veríssimo, Renata ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2012, Economia, p. B4

Compra está limitada a 1.500 dias de dívida externa a vencer, mas secretário diz que o prazo poderá ser alterado se for necessário

O Tesouro Nacional pode entrar mais fortemente na proteção do Brasil contra a guerra cambial e se aliar ao Banco Central na tarefa de conter a valorização do real, adotando uma política mais agressiva de compra de dólares. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, acrescentou ontem mais um elemento de incerteza no mercado ao antecipar que o governo pode retirar o limite de compra de dólares para pagamento da dívida externa.

As declarações do secretário, abrindo a possibilidade de o Tesouro se tornar um agente de peso no câmbio, surpreenderam o mercado e ajudaram a elevar a cotação do real pelo quinto dia consecutivo.

Atualmente, o Tesouro pode comprar moeda estrangeira equivalente à dívida a vencer em até 1.500 dias, mas o secretário disse que este prazo pode ser alterado de acordo com a necessidade, podendo até ser extinto. "No momento não é necessário. Mas queremos transmitir ao mercado que não existe limite. Se houver necessidade de irmos mais rápido, nós iremos." Ele afirmou que a estratégia considera as condições de mercado e a volatilidade da moeda.

O secretário não deu detalhes sobre a estratégia, mas a vantagem para o governo ao utilizar o Tesouro na compra de dólares é que a sua atuação pode ser feita mais "às escuras" do que as intervenções do BC no mercado de câmbio. Isso porque o Tesouro usa o seu agente, o Banco do Brasil, sem precisar comunicar ao mercado as condições e os valores das operações. A avaliação do governo é de que esse movimento do Tesouro pode acrescentar mais imprevisibilidade e ajudar a evitar operações especulativas com o câmbio.

Proativo. O elemento-surpresa já tem sido usado pelo Ministério da Fazenda para tentar controlar a excessiva valorização do real. "O que tenho a dizer é que vamos continuar a ser proativos para ter um câmbio adequado. De que forma? A cada momento veremos o que é mais adequado", afirmou Augustin.

Além de aumentar o prazo, o secretário também sinalizou que o Tesouro pode acelerar o pagamento antecipado de dívida externa aos organismos multilaterais, como Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Para isso, é preciso comprar mais dólares, o que aumenta a intervenção no mercado. "Se a gente recompra antecipadamente, abre espaço para nova atuação (mais compra de dólares)." Ele disse que o Tesouro está e poderá continuar recomprando títulos da dívida externa.

Até agora, o Tesouro já comprou 49% dos dólares necessários para honrar compromissos com pagamento da dívida externa a vencer até 2015, o equivalente a US$ 7,4 bilhões. O secretário anunciou ainda que o Tesouro deverá fazer uma emissão externa nos próximos dias, auxiliando no combate à guerra cambial.