Título: Não há mais dinheiro nessa renegociação
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2012, Economia, p. B8

Os credores privados da Grécia devem entender que "não há mais dinheiro" além do que foi acordado na renegociação que pode ter alcançado adesão até ontem de pelo menos 75% dos detentores da divida do país. A declaração foi feita ontem, no Rio, por Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), que é o principal negociador pelo lado dos bancos provados.

"É muito importante que os investidores reconheçam que (...) não há mais dinheiro para essa reestruturação de divida, e então as opções em cima da mesa agora são as opções reais que os investidores têm de encarar", disse Dallara, numa entrevista coletiva no Copacabana Palace, onde participou da reunião anual do IIF com líderes do setor financeiro na América Latina.

Segundo Dallara, que não quis dar nenhum número sobre a adesão dos credores privados, os termos da negociação, do ponto de vista das instituições financeiras representadas pelo IIF, são "justos e atraentes", mesmo representando uma perda de mais de 50% no valor de face dos créditos contra a Grécia, e uma perda ainda bem maior em termos de valor presente dos fluxos a serem recebidos.

Dallara, porém, enfatizou bastante que o acordo grego e a gigantesca injeção de cerca de 1 trilhão de euros pelo Banco Central Europeu (BCE) nos bancos da região podem não ser suficientes para resolver os problemas de divida soberana dos países problemáticos da zona do euro – que incluem também Portugal, Irlanda, Espanha e Itália – sem que haja estímulos ao crescimento econômico.

"Um superávit em conta corrente de 5% (do PIB) na Alemanha pode não ser o tonificante certo para a Europa", cutucou Dallara.

Quanto à possibilidade de que a renegociação da divida grega com o setor privado acione pagamentos de "seguro" de crédito (os "credit default swaps" que deflagraram a grande crise global pós-quebra do Lehman), ele disse que isso é uma decisão da associação internacional de derivativos.

Mas, caso acione, Dallara afirmou que não estava "extremamente preocupado", porque acha que os mercados estariam preparados para isso.

-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 13/03/2012 12:15