Título: Acordo grego pode ter adesão de 75%
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/03/2012, Economia, p. B8

Estimativa de agências de notícias indica êxito no programa de reestruturação, que vai cortar 53,5% do valor da dívida privada da Grécia

As ameaças lançadas desde a terça-feira pelo primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos, parecem ter surtido efeito. Atenas teria obtido ontem, último prazo possível para evitar o calote desorganizado de pagamento, a adesão de pelo menos 75% de seus credores ao programa de renegociação de sua dívida soberana.

Se confirmada a estimativa, obtida por agências de notícias, o plano resultará em um corte de € 107 bilhões em dívidas privadas, ou 53,5% do valor total. Significará também que a maior reestruturação de dívida soberana da história terá sido bem-sucedida - pelo menos por enquanto.

As adesões ao programa de reestruturação continuaram até as 21h, horário local, 16h em Brasília. De acordo com informações obtidas pelas agências France Presse (AFP), Reuters e Associated Press (AP) em Atenas, a participação dos investidores privados poderia até chegar à casa de 80%.

Segundo dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa 600 instituições financeiras, bancos e fundos de investimentos que representam 40,8% dos € 206 bilhões de dívidas aceitaram a troca das dívidas nas últimas horas antes do prazo final. Eles concordaram com o corte de 53,5% do valor nominal, que chega a 73% do total, incluindo os juros até o vencimento.

A proporção de 75% da dívida era considerada um mínimo para evitar o calote e obter da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) o desbloqueio do segundo plano de socorro, de € 130 bilhões.

De acordo com a agência pública que gerencia a dívida grega, os números oficiais seriam revelados às 18h de amanhã, horário do fechamento dos mercados. A expectativa, porém, é de que o ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, antecipe o anúncio das cifras da reestruturação para a manhã de hoje, pouco antes da abertura das bolsas da Europa.

"Se tudo correr bem, nós poderemos anunciar amanhã que o povo grego livrou-se do fardo de € 107 bilhões em dívidas", disse Venizelos, comemorando o default "voluntário". "Pela primeira vez, nós reduziremos a dívida, no lugar de fazê-la aumentar."

Bolsas. O anúncio poderia ser antecipado para reduzir a incerteza sobre as bolsas de valores, que se mostraram febris nos últimos dois dias, oscilando de fortes baixas a fortes altas entre a terça e a quinta-feira. Ontem, as principais praças financeiras demonstravam otimismo em relação a Atenas. Em Paris, o CAC40 fechou em alta de 2,54%, similar ao resultado do índice DAX, de Frankfurt, que teve alta de 2,45%. Em Londres, o FTSE 100 ganhou 1,18%. Já o índice pan-europeu Eurostoxx 50 subiu 2,16%.

A reestruturação também deve abrir a Atenas os cofres da União Europeia e do FMI. A Grécia precisa honrar até 20 de março o vencimento de € 14 bilhões em dívidas, que terão de ser reembolsadas com recursos dos organismos multilaterais. Em Washington, Gerry Rice, um dos porta-vozes do FMI, antecipou que o conselho de administração do Fundo deverá se reunir em 15 de março para "analisar" - na prática, para formalizar - o novo empréstimo. "Isso depende da implantação das medidas exigidas das autoridades gregas, da obtenção dos seguros sobre o financiamento, e até de um acordo sobre a reestruturação da dívida em poder do setor privado."

Além do FMI, o Banco Central Europeu (BCE) também anunciou a retomada das negociações com a Grécia. Em comunicado, o BCE informou que voltará a aceitar títulos da dívida do país como garantia de pagamento, invertendo a decisão tomada em fevereiro, após o novo rebaixamento anunciado pela agência Standard & Poor"s.