Título: O aumento dos preços dos serviços pode se alastrar
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2012, Economia, p. B2

A alta dos preços dos serviços parece ser agora o que mais preocupa as autoridades no controle da inflação. É que, de modo geral, os serviços são imunes à concorrência vinda de fora, ao contrário dos produtos manufaturados, cuja importação aumentou consideravelmente no Brasil, contribuindo desse modo para manter a inflação sob controle. Não é o caso de serviços como o ensino, a assistência médica ou a alimentação nos restaurantes.

O IBGE, reformulando o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares no período 2002-2003, chegou a mudar substancialmente o peso das despesas com educação, que de 7,2% caiu para 4,33%. Mas, em compensação, incluiu entre os serviços a alimentação fora de casa e as passagens aéreas. Isso dificulta as comparações com os resultados de 2011. A consultoria LCA preferiu calcular a evolução dos itens novos incluindo os antigos. Nesse cálculo, a inflação dos serviços subiu de 1,05% para 1,25% nos dois primeiros meses do ano, em relação a 2011.

É natural que se indague se esse aumento representa uma tendência e se existe o risco de a alta dos serviços, ao longo do ano, contaminar os preços dos produtos manufaturados, levando em conta que uma indústria também tem de recorrer a serviços que, com a inclusão da informática, adquirem maior importância na vida das unidades fabris.

A grande dúvida surge do fato de que os dados relativos aos dois primeiros meses incluem a educação, mas a ponderação dessa atividade foi reduzida no novo cálculo do IPCA. Isso significa que o aumento dos preços dos serviços, excluindo a educação, cresceu.

A elevação do preço dos serviços tem suas raízes em diversos fatores. Por exemplo, podemos considerar que as consultas médicas são o reflexo de uma extensão do sistema de proteção propiciado por planos de saúde. Estes, ao remunerarem mal os médicos que deles participam, os levam a se defenderem quando o cliente não tem um convênio.

O forte aumento de preços das refeições fora de casa é consequência de uma elevação da renda e, da parte dos estabelecimentos, da vontade de imitar congêneres do exterior.

Temos de acrescentar um fator que nesta situação justifica preços elevados: é o trabalho do pessoal especializado - eletricistas, encanadores, etc. -, que se aproveita da escassez dessa mão de obra.

O problema maior nos serviços é que dificilmente os preços reagem a uma redução da renda, mantendo-se elevados.