Título: Troca de comando na CBF
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2012, Notas e informações, p. A3

A renúncia de Ricardo Teixeira à presidência da Confederação Brasileira de Futebol encerrou 23 anos de reinado. E também o mando de uma dinastia que tomou o poder no mais popular esporte do País em 1956, quando o ex-atleta e dirigente João Havelange se tornou presidente da Confederação Brasileira de Desportos, que ditava os destinos do futebol e de mais 23 esportes no Brasil. Em 1974, Havelange saiu da confederação para presidir por 14 anos a Fifa e, em 1989, elegeu para a presidência da CBF o genro, que, quando renunciou, estava no quinto mandato. Este só terminaria em 2015, um ano depois de um dos feitos de que mais se orgulha: ter trazido para o Brasil a Copa do Mundo de 2014.

Sob o comando do sogro, a seleção brasileira de futebol ganhou três Copas: 1958, 1962 e 1970. Dois mundiais (1994 e 2002) ornam a galeria de troféus do genro, ao lado de cinco Copas América e três Copas das Confederações. Tais triunfos não evitaram as denúncias de corrupção que o levaram a protagonizar em 2001 Comissões Parlamentares de Inquérito na Câmara e no Senado. Sob sua direção, a CBF enriqueceu muito, mas o futebol brasileiro decaiu. Depois de brilhar por muitos anos no primeiro posto do ranking da Fifa, está agora no sétimo lugar.

Nada disso, porém, o derrubou do topo. Isso só ocorreu após sua decisão de disputar a presidência da Fifa. Ganhou inimigos poderosos na cúpula do futebol mundial, mas se sentia confortável por ter ajudado o ex-presidente Lula a trazer a Copa de 2014 para o Brasil. Seu plano incluía manter-se no poder na CBF fazendo sucessor o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, a quem entregou a chefia da delegação nacional que malogrou na Copa da África do Sul e a direção de seleções. Estes planos fizeram água com a substituição do corintiano Lula por Dilma Rousseff, que nunca escondeu a antipatia por ele. No ano passado, esta má vontade se manifestou quando o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, se negou a recebê-lo e mandou que falasse com o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que nada tinha a ver com o peixe.

Esta má vontade se confirmaria com o regozijo da presidente depois de sua renúncia. Bastou que ele saísse da presidência da CBF e, em consequência, da direção do Comitê Organizador da Copa para que Dilma agendasse um encontro que vinha sendo adiado indefinidamente com o suíço Joseph Blatter, atual presidente da Fifa. Assim, ficou claro que a permanência de Ricardo Teixeira no comando do futebol brasileiro era o principal obstáculo para a melhora das relações entre o governo federal e a cúpula do futebol mundial. Talvez não seja exagerado afirmar que a renúncia forçada do presidente da CBF seja mais uma troca de pessoas de confiança do ex-presidente Lula por sua sucessora.

Outro cartola ligado ao ex-presidente que deve sumir do cenário é o diretor de seleções, Andrés Sanchez, que não goza da simpatia de Marco Polo del Nero, tido como eminência parda do sucessor de Teixeira, o ex-governador de São Paulo José Maria Marin. Este assumiu prometendo continuidade e enaltecendo a gestão do antecessor. Não pode, assim, ser considerado uma esperança de que a administração do futebol brasileiro seja profissionalizada, como é necessário que venha a sê-lo para que talentos novos surjam e a seleção reconquiste o lugar de destaque que ocupa na história, por ter sido a que mais ganhou Mundiais - seis ao todo.

Ex-vice governador biônico, que ocupou o governo de São Paulo quando o titular, Paulo Maluf, se afastou, o presidente da CBF foi filmado embolsando uma medalha que era para ser entregue a um dos jogadores do Corinthians, campeão da Taça São Paulo de Juniores. Sem a experiência do antecessor na gestão da CBF, ele já está sendo jocosamente alcunhado de "o breve". Mas ninguém está autorizado a imaginar que a brevidade de seu mandato propiciará uma mudança de monta que torne a corrupta e amadorística gestão do futebol no Brasil mais eficiente. Se Marin sair, entrará em seu lugar Fernando Sarney, o representante do clã do presidente do Senado na gestão de seus negócios empresariais.