Título: Novo IOF sobre entrada de capitais não afeta rolagem
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/03/2012, Economia, p. B2

A decisão do governo de estender para empréstimos externos de cinco anos a cobrança de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - antes incidente nos de três anos - não foi surpresa. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, havia deixado claro que sua luta contra a guerra cambial não havia terminado. Além disso, parece que essa decisão atingiu o objetivo de favorecer a desvalorização do real ante o dólar.

Cabe, todavia, examinar se a medida afetará negativamente as contas externas, nas quais se está prevendo um déficit em transações correntes de US$ 68 bilhões, segundo a última pesquisa Focus.

Ora, é claro que o Brasil terá de encontrar recursos externos para compensar esse déficit. Para isso, conta com uma entrada de US$ 55 bilhões de Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs), mas tem de dispor de mais recursos para amortizar os empréstimos, que o Banco Central calculava, na sua última análise, em US$ 36 bilhões, o que exigirá uma boa rolagem.

O montante dos IEDs indica que há uma grande dose de confiança na economia brasileira. E não nos podemos esquecer de que estamos atravessando um período de farta liquidez nos países do Primeiro Mundo, que terão grande interesse em aplicar essa liquidez em operações com o Brasil, que paga juros elevados. Somente médias empresas terão dificuldades.

No entanto, há outros aspectos a serem levados em conta. Transcorridos dois dias da adoção da medida, ela parece ter tido de fato o efeito que se desejava, pois a cotação do real ante o dólar se mantém no intervalo de R$ 1,75 a R$ 1,80. Caso isso continue, podemos imaginar uma pequena redução das importações, como também um efeito negativo sobre a inflação, que poderá ser compensada por um pequeno aumento das exportações.

Somente se a balança comercial continuar a se deteriorar é que se poderiam encontrar dificuldades para rolar a dívida, lembrando que, nos últimos meses, os empréstimos chamados perpétuos (linha de crédito sempre disponível) se estão ampliando. Só se poderia temer uma grande dificuldade para rolar a dívida externa no caso de uma crise bancária no País.

O único efeito obscuro está ligado à entrada de capital externo na Bovespa: sexta-feira, por exemplo, ingressaram R$ 507,1 milhões nesse mercado. Um período prolongado de alta, que atraia o capital estrangeiro para o nosso mercado de ações, poderia sofrer com uma súbita saída. Isso exige a realização de reservas, para não haver surpresas difíceis de lidar.

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